terça-feira, 24 de setembro de 2013

Les Bien- Aimés (2010)

de Christophe Honoré
Ludivigne Sagnier
Catherine Deneuve
Raivoje Bukvic
Chiara Mastroianni
Louis Garrel
Milos Forman
Paul Schneider



Uma odisseia musical da relação entre mãe e filha e as suas relações com os homens da sua vida. O filme começa com a personagem de Madeleine ( Ludivigne Sagnier/ Catherine Deneuve) a conhecer Jaromil Passer ( Radivoje Bukvic/ Milos Forman). Ela é uma consumista, ambiciosa por conhecer um homem que a sustente até que conhece Jaromil um médico checo de passagem por França. Casam-se e tem uma filha Vera (Clara Coste/Chiara Mastroianni).


A vida como casal será breve, uma vez que Jaromil é incapaz de ser fiel a Madeleine. Em plena Primavera de Praga, Madeleine volta para Paris com Vera, refaz a vida e casa-se novamente, mas só com as investidas de Jaromil é que se sente completa.
As investidas e os encontros vão se sucedendo, o tempo vai passando e Vera vai ganhando protagonismo, dando origem a mais um arco narrativo. Neste encontram-se Vera ( Chiara Mastroianni), Clement( Louis Garrel) e Henderson (Paul Schneider). Aqui é o tipico triãngulo Clement gosta da sua ex-namorada Vera que por sua vez se apaixona por Henderson, um baterista gay seropositvo


Considero que é neste arco que está a principal falha do filme. Existe aqui um certo maniqueismo do realizador em querer colocar as personagens em situações limite  e subjuga-las a isso. Vera, vive um amor proíbido, de certa forma correspondido, mas considero que as pretensões que levam â sua autodestruição são erradas ou usadas propositadamente para fins melodramáticos. Coloca-los em acontecimentos chave da nossa sociedade também parece-me uma forçada contextualização.
Sempre vi Chistophe Honoré um realizador influenciado por Ozon na forma como usa as cores, o seu estilo visual, mas considero que os filmes de Honoré sejam de uma forma geral mais figuras de estilo que propriamente obras que respirem cinema e personagens. Confesso que gostei mais deste Les Bien Aimés que Les Chansons d'amour, existe aqui uma farsa encantadora mais bem estruturada que nos outros filmes, dando piscadelas de olhos a Homme au Bain com a personagem de Omar num cameo.

Injustamente maltratado pela nossa imprensa portuguesa, Les bien Aimés tem muitos pontos a seu favor. Os numeros musicais desta nova colaboração com Alex Beaupain dando coesão à narrativa, mas ainda não é a obra pela qual Honoré vai ser relembrado, mas andou lá perto não fossem as pequenas falhas.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Le Temps qui Reste (2005)


de François Ozon

Melvil Poupaud, 
Jeanne Moreau, 
Valeria Bruni Tedeschi



François Ozon, depois de 5x2, resolveu debruçar-se sobre a sua trilogia sobre a morte e dá-nos o segundo filme da trilogia, depois de Sans la Sable. Admira-se o registo directo e crú que Ozon imprime a Le Temp qui Reste. O destino fatalista de Romain poderia facilmente dar lugar a subterfúgios que são lugar comum deste tipo de filmes, mas Ozon evita o dramatismo excessivo, o que interessa é a personagem Romain e a sua transformação aos nossos olhos.O tema da morte é recorrente no cinema e toda a gente sabe qual será o desfecho, cabe ao realizador imprimir ao filme uma veia mais ou menos dramática , Le Temps qui reste opta por abordagem mais introspectiva, como se coubesse ao protagonista, uma viagem pela nostalgia do seu passado.
Nesse aspecto, temos que agradecer a Melvil Poupaud que constrói uma personagem carismática que evita o overacting e o excesso de dramatismo. A personagem de Romain é uma miríade de emoções reprimidas que estão em constante conflito com a inevitabilidade do seu destino e a nostalgia das suas recordações. Quando Romain vê o seu futuro segmentado a uns meros meses, ele começa um processo de isolamento e de instropecção, na qual começamos a perceber ou a criar empatia com o seu lado mais arrogante e agressivo. Romain continua o mesmo, apenas transforma-se aos nossos olhos. Não diria que estejamos perante um caso de indulgent self pity, mas sim de um exemplo mais naturalista de character development que só François Ozon sabe fazer. É na cena com Jeanne Moreau que percebemos que é um elemento não entendido da família e que tal como ela, o futuro é uma perspectiva a curto prazo, algo que destoa completamente dos restantes membros da familia  François Ozon está confortável nestas águas, é a sua assinatura como autor, mas como os seus restantes filmes, existe material mais que suficiente para elevar o seu potencial. Em Le Temps qui reste, o problema reside num esquematismo do argumento que existe no ultimo terço final, onde a personagem de Valéria Bruni Tedeschi surge de forma conveniente para conceder ao protagonista uma forma não de se redimir, mas para tornar o seu destino menos fatalista.  Faltou a Temps qui Reste arriscar um pouco mais


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Gebo e a Sombra (2012)




de Manoel de Oliveira  
Michael Lonsdale
Leonor Silveira
Claudia Cardinale
Jeanne Moreau
Luis Miguel Cintra
Ricardo Trepa

Sinopse: Gebo é um cansado contabilista que vive numa casa empobrecida, com a sua mulher Doroteia (Claudia Cardinale) e a sua Nora (Leonor Silveira). Apesar das dificuldades, o que lhes mais atormenta é a ausência do seu filho João, que saiu de casa em busca de uma aparente vida melhor. A ausência de João acarreta alguns segredos que só Gebo sabe até ao momento em que João regressa...

Vamos constatar o óbvio : Manoel de Oliveira com 103 anos é um caso invejável longevidade na história do cinema português, ao realizar um filme por ano. Agora será isso suficiente para indicar as excelentes criticas que O Gebo e a Sombra tem tido? 

Manoel de Oliveira : Ama-se ou Odeia-se?

Aliás há uma determinada fase do cinema autoral em que qualquer filme que saia seja sinal de boas criticas. Manoel de Oliveira é um desses casos em que tem a imprensa especializada rendida à longevidade do seu trabalho e a sua coerencia. Isso não está posto em causa, agora quando se critica um cineasta por se tornar rotineiro (Woody Allen é um desses casos) não se poderia criticar Manoel de Oliveira dessa mesma rotina? 

Não me parece que nesta fase da sua vida, o realizador queira inovar a sua fórmula narrativa dos seus filmes,mas salvo raras excepções sempre achei o cinema de Manoel de Oliveira muito fechados em si mesmo, indiferente a quem o poderia vir a estar a ver, apenas e só para consumo interno. Não digo que com isso Gebo e a Sombra não tenha os seus momentos, mas enquanto que todos aplaudem as actuações, não consigo me abstrair de toda a artificialidade que Gebo e a Sombra oferece. 

Em Gebo e a Sombra grande parte do filme passa-se numa sala fechada onde  verbaliza-se os todos pensamentos em monólogos e diálogos, quando os silêncios poderiam ser bem mais eficazes. Um filme- teatro, onde a forma condiciona o conteúdo cabe a quem está a ver o filme, identificar-se (ou não) com este tipo de linguagem. Eu recaio no segundo grupo.

Embora seja importante perceber o que o realizador quer transmitir é necessário que se estabeleça um elo de ligação entre o espectador e o objecto cinematográfico. Tirando alguns momentos mais inspirados ( quase todos nos diálogos onde entra Jeanne Moreau), não senti essa ligação... O que é pena... ainda não foi desta que fiquei seduzido ao cinema de Manoel de Oliveira...

O melhor : Jeanne Moreau.
O pior : A artificialidade teatral disfarçada de grandes interpretações.



terça-feira, 17 de setembro de 2013

The Hours (2002)


de Stephen Daldry
Nicole Kidman
Julliane Moore
Meryl Streep
Ed Harris
Jeff Daniels
Toni Collete
John C. Reilly
Claire Daines
Allison Janney


Uma boa adaptação?
Um problema que já debati aqui ao criticar filmes que sejam adaptações literárias, é que se explore em demasia determinados detalhes e acabe-se por negligenciar outros tantos. Para uma pessoa que leia a obra literária, o resultado é uma experiência desigual de emoções, por considerar sempre que falta "quelque chose". Então qual é o principal objectivo de uma boa adaptação cinematográfica de livro?Em primeiro lugar, o filme deverá falar uma linguagem literária, ou seja, nem ser tudo muito evidente, nem ser enigmático demais, como um livro fechado em si mesmo. A linguagem literária que aqui refiro deve ser da responsabilidade primeiro, do argumento e segundo dos actores que o interpretam, que precisam de ter uma maturidade que o permitam ter a complexidade exigida.Em segundo lugar e isto vem em detrimento do ponto anterior, estamos perante uma boa adaptação cinematográfica quando o filme em vez de "consumir" o livro, coexiste com ele. Tem-se que ter a noção de que são expressões artísticas distintas, logo quando temos dois objectos que se complementam, mas que valem por si só, então estamos perante uma boa adaptação cinematográfica.

Crítica
Stephen Daldry, teve a coragem de adaptar o romance de Cunningham e o resultado final é excelente. Dirigindo um elenco de estrelas como Meryl Streep, Julianne Moore, Nicole Kidman - que venceu aqui Oscar - ou Ed Harris, Daldry gere com mestria os 3 tempos por onde o livro/filme viaja. Se aliarmos a perfeição narrativa com uma banda sonora de excelência de Phillip Glass e um argumento bastante fluido de David Hare, temos um cocktail de emoções durante 2 horas que não os deixarão indiferentes.

O filme divide-se em três fluxos temporais, onde existe uma personagem principal: Mrs Dalloway e estas irão influênciar as personagens principais do filme. Em primeiro define a sua criadora, Virginia Wolf, a escritora que sofre de esquizofrenia e insurge-se contra o estilo de vida que a doença lhe impõe. Farta de isolamento ela é o retrato de um sofrimento e de uma frustação interno que leva a criar a obra literária que influenciará o destino das restantes personagens. Ela mesma é o resultado da criadora a ser influênciada pela sua criação. No final tanto Wolf como Richard tem o mesmo destino e se calhar esse detalhe não é tão gratuito assim. Vejam o filme e digam-me as semelhanças...

A personagem de Laura (Julliane Moore) é aquela que trará a maior surpresa durante o filme. Ao ler o livro escrito por Wolf, ela revê-se naquela personagem. Laura é a típica mulher dona de casa, dos anos 50. O pós guerra,trouxe-lhe um lar e um conforto que esta não esperava e de certa forma não deseja. Grávida com um filho e um marido, a felicidade é aparente e rapidamente percebe-se rapidamente porquê. Presa a uma vida que não deseja, as suas acções trarão sequelas para toda a sua família que serão reveladas no terceiro eixo temporal.


Por final temos a personagem de Clarissa (Meryl Streep), no presente. Ela é Mrs Dalloway, literalmente. Compra flores, organiza uma festa para o seu amigo Richard. Será a celebração de uma vida que já não deseja viver. Richard é um escritor, incompreendido, mas elogiado pela sua carreira, que vive assombrado pelas palavras de Virginia Wolf e a obra central do filme. A padecer de S.I.D.A, Richard padece do mesmo mal que Wolf: Revive as personagens em situações reais, e projecta as dolorosas vivências do seu passado, na prosa que escreve, ficando sempre escravo das memórias e das personagens que cria e lê.
~
O fatalismo do filme é mesmo esse. As personagens estão presas ao momento, mas não conseguem desligar o passado. Ele molda e condiciona o presente de todas as personagens. Se reparar, os unicos que morrem são escritores, porque tanto num caso como no outro, estes pensavam que com a sua morte, poderiam dar algum sentido de vida a todos aqueles que estariam a ser condicionados por eles. Isso não significa que exista uma resolução. O que o filme/livro promove é a excelência do momento, e nesse momento aproveitar a vida ao máximo, porque esse pico de felicidade poderá ser breve, sem a mesma intensidade e são esses momentos efémeros que definirão uma vida inteira.

O filme é demasiado complexo, há quem o veja como deprimente, ou o percepcione de forma distinta, como estou a tentar demonstrar, daí achar fascinante a forma como este foi concebido e construído. Mérito para Stephen Daldry e David Hare, que oferecem uma narrativa muito subliminar e subtil que tentam e conseguem dar uma dimensão literária. Todo o elenco é excelente, com portentosas actuações, cheio de significados subliminares que tanto satisfazem quem não leu o livro, como conseguem criar um elo de ligação para quem o leu. Em vez de o alienar, o livro surge como um complemento ao filme, sendo que considero este, um dos poucos exemplos em que o filme é uma obra superior ao livro. Um dos melhores filmes daquele ano, uma referência na minha vida!

domingo, 15 de setembro de 2013

Cosmopolis (2012)


de David Cronemberg
Robert Pattinson
Paul Giamatti
Kevin Durand
Juliette Binoche

Que dizer de Cosmopolis, um filme que foi considerado por muitos da imprensa portuguesa, como um dos melhores filmes deste ano? É dos filmes mais seilf-absorved que vi nos ultimos tempos. O filme tem como figura central Eric Parker, o cosmos de Cosmopolis, um bilionário de 28 anos que durante um dia enquanto faz a viagem ao barbeiro, encontra alguns dos seus assistentes, a sua amante, a sua mulher e ainda tem direito a uma consulta de urologia. Tudo isto embrulhado em diálogos numa análise filosófica sobre o capitalismo, a sua intangibilidade, e qual a real percepção do seu valor. É igualmente uma sátira à facilidade como a sociedade se molda a estes novos padrões de vida e a uma economia que se rege a base de rumores e previsões.

Tudo muito actual, mas que aqui acaba por ser um filme desequilibrado, com bastantes problemas de ritmo, um exercício intelectual sem qualquer empatia por quem está a ver o filme. Cosmos que David Cronemberg criou para si mesmo, um objecto fechado, onde tanto a personagem principal como os segundários que entram esporadicamente para dar o ar da sua graça, tem tanto carisma como uma folha de papel sem conteúdo. 

Talvez esse fosse o intuito do filme, aproveitar a alavanca promocional que Robert Pattinson daria ao filme, para dar algum buzz ao projecto, criar imensas expectativas e aproveitar o star power do actor como manobra de marketing para a adaptação do romance de Don delitto. Pode-se dizer que neste caso, a montanha pariu um rato... Quem vir o filme perceberá a analogia.





quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Django Unchained (2012)



de Quentin Tarantino
Jamie Foxx
Christoph Waltz
Leonardo Dicaprio
Kerry Washington
Samuel L.Jackson

Sinopse: Django é um escravo que é libertado por um bounty hunter, Dr. King Schultz para que o ajudasse a identificar 3 dos seus alvos. Ao ver o potencial em Django, Dr King Schultz propõe -lhe uma parceria, em contrapartida ele  ajudará a resgata e a localizar a mulher de Django, Broomhilda.

Começo por dizer que considero Django, um dos filmes menores de Tarantino. No entanto tomara a muitos que os exercícios menores na filmografia, fossem tão bons quanto este. Infelizmente em  Django, uma sensação de dejá vu e de previsibilidade que não permite ao filme ser a experiência que gostaria que fosse. 

O cinema de Tarantino foi sempre algo que conseguiu surpreender seja: 
  • na violência crua e o primeiro impacto às referencias pop do cinema de Tarantino em Reservoir Dogs.
  • na complexidade narrativa de Pulp Fiction e Jackie Brown.
  • Em Kill Bill : No volume 1 todo o excesso, também presente em Django, no volume 2 aquela calma inquietante e numa aparente mudante de registo, dando azo a um cineasta bem mais sensivel que poderiamos imaginar.
  • Em Inglorious Basterdz: A pequena reformulação histórica que define a experiência absolutamente deliciosa que o filme é. E claro introduz Cristoph Waltz ao mundo de Tarantino, que é algo que este filme também tem.
O que Django faz é reafirmar o quanto gostamos de Tarantino e do seu cinema: todos os key elements que o  compõem estão lá : grandes diálogos e personagens, as referências cinematográficas, a sátira e a violência e o humor, mas em Django a experiência acaba por ser menos equilibrada. Tanto Dicaprio como Waltz estão soberbos na composição das suas personagens, eles carregam o filme e a partir do momento em que saem de cena, o filme perde a intensidade que tinha tido até então e o dramatismo que atinge o pico nesse ponto do filme vai dando lugar a uma dimensão quase cartoonesca e incoerente.(vejam a fuga de Jamie Foxx).

Não se nega que Django tem alguns rasgos de genialidade, mas se analisarmos o filme como um todo e se o comparar-mos com outros filmes da filmografia do realizador, Django acaba por perder em comparação, o que é pena.

O melhor : Cristoph Waltz e Leonardo Dicaprio
O Pior : O momento em que estes saem de cena.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Amour(2012)


de Michael Haneke
Jean-Louis Trintignant
Emmanuelle Riva
Isabelle Huppert

O ultimo filme de Michael Haneke é das experiências cinematográficas mais angustiantes deste ano. Quando o filme terminou, o ar na sala era pesado, o ambiente era desconfortável que são dois adjectivos que podem assentar que nem uma luva ao cinema de Haneke.

“O Tempo Destroi tudo”


O melhor do filme é sem dúvida alguma Emanuelle Riva, que interpreta de forma assombrosa a degradação da sua personagem. No seu olhar conseguimos ver a lucidez e frustração  pelo seu corpo estar progressivamente a trai-la.  É interessante observar a forma como a progressiva debilitação da protagonista, potencia cada vez mais o isolamento do casal. De um espaço amplo, passamos para divisões fechadas, isoladas do mundo exterior e de todos, uma prisão para ambos.

Por mais virtudes que o cinema de Michael Haneke tenha , não deixa de ser frustrante o distanciamento entre o  olhar do cineasta e o seu publico. Amour, tal como os restantes filmes de Haneke é um filme frio,um olhar quase que cirúrgico à vida daquele casal. A doença destroi a rotina e isola-os naquele espaço, Haneke filma-o de forma impiedosa, realista, sem que haja qualquer hipótese de redenção para nós que saímos do cinema absolutamente dilacerados com o facto que eventualmente será aquele o nosso destino. É um filme dificil, um filme que gostaria ter gostado.




quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Silver Linings Playbook (2012)


de David O. Russel
Bradley Cooper
Jennifer Lawrence
Robert De Niro
Jacki Weaver
Chris Tucker

Sinopse : Pat Solatano (Bradley Cooper) regressa a casa dos pais (Robert De Niro e Jacki Weaver) depois ter estado numa instituição  por agressão violenta ao amante da mulher. Regressa convicto a reconquistar a mulher e a mudar toda a sua postura perante a vida. Quando conhece Tiffany (Jennifer Lawrence) esta oferece-se para o ajudar, se ele porventura também fizer algo por ela....

De vez em quando surge um filme que conquista por inteiro o publico e a atinge a aclamação crítica. O ultimo caso mais extravagante foi talvez O fabuloso Destino de Amélie Poulain, que em 2001 trouxe Audrey Tatou e Jean Pierre Jeunet nas bocas do mundo e fez as delicias de todos os cinéfilos e alguns corações de manteiga. Agora o próximo crowdpleaser minimamente equiparável é este Silver Linings Playbook de David O. Russel. O filme apesar de ter tido 3 uma estreia limitada, foi sempre conquistando publico e a prova é que 3 meses depois da sua estreia nos EUA ainda continua nos lugares cimeiros do box-office.

Entende-se o porquê : Apesar da formula ser convencional e a narrativa não ser original, estamos perante um projecto onde todos os ingredientes funcionam. Do argumento, aos actores, passando pela realização está tudo executado de forma eximia e raramente vemos uma comédia romântica tão eficaz. Bradley Cooper e Jennifer Lawrence tem aqui excelentes interpretações e uma química estrondosa entre os dois. Estão acompanhados por um elenco de secundários que também não desilude, aliás Robert De Niro volta aos papéis relevantes depois de uma travessia no deserto e é sempre bom ver o regresso Chris Tucker sem aquele overacting que infelizmente é a sua imagem de marca.

Todos encontram-se em consonância, porque o argumento tem alguma substância. Entre o protagonista bipolar dependente de medicamentos à viúva ninfomaníaca há uma relativização que permite ao comum dos mortais empatizar com aquelas personagens. As comédias românticas não precisam de ser perfeitas, as personagens não o são, as suas acções também não e é no assumir dessa imperfeição que o argumento é engenhoso e dá lugar a situações tanto comoventes como verdadeiramente dignas de uma screwball comedy.

Provavelmente será a melhor comédia romântica do ano e seguramente dos últimos anos. Preparem-se para sair do filme com um sorriso de orelha a orelha.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Martha Marcy May Marlene (2011)

de Sean Durkin
Elisabeth Olsen
John Hawkes
Sarah Paulson
Hugh Dancy


Vindo dos festivais de cinema com um hype bastante positivo como sendo um dos mais desconcertantes produtos cinematográficos deste ano, Martha Marcy May Marlene acaba por ver o seu reconhecimento injustamente ignorado nos Óscares e nos Globos de Ouro uma vez que se trata do que de melhor que vi em termos de produção indie nos E.U.A
O filme é um prodígio de edição onde  Zachary Stuart Pontier, torna as cadencias entre o culto e a vida familiar de Martha em algo hipnótico e sedutor como algo que estava entranhado bem na personalidade de Martha,  que juntando à fotografia de Jody Lee Lipes retira o melhor dos ambientes e da sensação de claustrofobismo em que a Martha vive.
Martha é uma jovem que foge de um culto, onde esteve ingressada durante dois anos. Contactando a irmã mais velha, ela regressa a casa. para uma aparente normalidade. A partir daí Martha vai sendo povoada por uma sensação de paranóia como se tivesse a ser perseguida pelo culto. É algo que ninguém entende e que a torna desajustada da sociedade normal.
Martha Marcy May Marlene é sobretudo um interessante exercicio sobre o domínio que este tipo de comunidades consegue ter sobre uma pessoa, moldar e seduzir aos poucos a sua personalidade. Muitos acharam o final abrupto, mas para mim conclui ambiguamente na perfeição o filme: Martha nunca viverá descansada, ela ficará sempre com aquela sensação de vigília constante, como se o culto viesse reclamá-la para si, poderá ser um exagero por parte de Martha ou os seus receios poderão ter fundamento.
Grandes actuações de Elisabeth Olsen e de John Hawkes, que oferece uma interpretação silenciosamente assustadora como Patrick, o líder do culto, um argumento que deixa a pensar e reflecte sobre uma realidade algo vincada nos EUA. Esse sentimento de isolamento que já tentaram adaptar para cinema, mas poucos fizeram-no tão eficazmente como Sean Durkin faz aqui em Martha Marcy May Marlene.


domingo, 1 de setembro de 2013

Thrist (2009)



de Chan Park Wook
Kang-ho Song
Ok-bin Kim
Hae-suk Kim


O que existe em Park Chan-wook que o torna tão especial? A meu ver é a sua atracção pelo burlescoaliado a a um erotismo romântico. Quem vir o filme percebe a razão destes adjectivos que porventura existiam também em Old Boy, se bem que de uma forma mais coesa que em Thrist.
Thrist é uma história de um padre que é transformado em vampiro depois de se ter submetido a uma experiência médica. Nessa experiência ele morre humano e renasce vampiro. A sua personagem é uma personagem bondosa que é obrigado a ceder aos seus impulsos carnais. Essa cedencia surge com a introdução de uma família que fazia parte da sua infância. Nela Tae-ju a sua paixão de infância está casada com o seu amigo e é submetida a humilhações pela sua sogra e mãe adoptiva.
Estas relações disfuncionais e excentricas são um terreno comum no mundo do cineasta. Nota-se o seu fascinio por estas relações disfuncionais que evoluem primeiramente de uma forma subtil para depois ser exagerado e desiquilibrado.


A partir do momento em que a relação do padre e Tae-ju começa a evoluir ele começa a renunciar à sua condição de padre e a abraçar a sua nova condição, sempre com o receio de se revelar. Até ao momento da revelação, parece que estamos presente um filme de Wong Kar Wai de vampiros. Tentando não revelar nenhum detalhe, o realizador tenta abordar o vampirismo como estudo e extensão da própria condição humana.
Chan Park-Wook filma isso de forma eficaz até a primeira metade do filme, porém perde as estribeiras na segunda metade dando lugar a um filme que vai perdendo o seu fio narrativo, a sua coerência talvez devido a uma personagem desiquilibrada. Se calhar era o efeito pretendido pelo realizador, porém a elegância da descoberta vai dando lugar ao grotesco e ao excesso. Mas no meio de toda esta experiência de extremos não podemos deixar de ficar indiferentes e seduzidos pela forma como Chan Park-Wook conduz este épico vampírico. Da sedução, surge o amor, do amor surge a obsessão, depois o confronto e quando o julgavamos perdido, o amor ressurge novamente. E nesse momento em que o filme renasce das cinzas vemos que apesar de todos desequilíbrios foi uma experiência estranhamente atraente e quando menos se espera perdoamos todos os desvaneios que as personagens poderão ter tido, para poderem ter a sua redenção.



sábado, 31 de agosto de 2013

Killer Joe (2011)


de William Friedkin
Mathew McConaughey 
Emile Hirsch
Thomas Haden Church
Gina Gershon
Juno Temple.

Sinopse : Chris (Emile Hirsch) é um traficante de droga que ameaçado para liquidar as dividas, convence o pai (Thomas Haden Church) e o resto da familia a contratar os serviços de Joe (Mathew McCounaghey) para assassinar a sua mãe. Ao ficar com o seu seguro de vida, cujo o unico beneficiário é a irmã Dottie (Juno Temple) pode liquidar as suas dividas e salvar a sua vida. 

Killer Joe é o ultimo filme de William Friedkin, um realizador que depois de Bug volta a unir-se a Tracy Letts e adaptar a sua primeira peça ao cinema, que a meu ver funciona como um "southern fairy tale" uma subversão amoral do conto da Cinderela. O ponto forte do filme é o argumento que no terço final do filme adquire uma maior intensidade teatral na forma como as palavras são interpretadas. Quando o filme se fecha num unico espaço é onde o filme explode de vida, a tensão fica ao rubro e os actores entregam-se ao exagero kitsch dos seus personagens, tornando o twist final em algo perfeitamente equiparável a um filme de Tarantino.


A premissa do filme acaba por ser o menos interessante do filme e sim a interacção entre as personagens. Nesse aspecto Mathew McConaughey destaca-se, pois dá a sua personagem o magnetismo necessário para ser ameaçador (na cena do jantar) e empatico (nas cenas com Juno Temple), sem recorrer a qualquer tipo de overacting. É uma interpretação complexa que poderia cair no exagero e já vimos actores a serem galardoados por muito menos. O resto do elenco cumpre a tarefa, Gina Gershon tem aqui um papel humilhantemente corajoso, Haden Church é hilariante e tanto Hirch como Temple cumprem.

Acaba por ser frustante que este filme tenha sido um fracasso comercialmente e apesar da coragem dos actores e do realizador, os seus esforços não tenham sido devidamente recompensados. No entanto se analisarmos as tendencias dos ultimos anos, verificamos que projectos marginais como este estão dependentes de dois factores: aclamação crtica vs politica de distribuição e divulgação do próprio filme.
Sendo que a "marca" William Friedkin pertence aos anos 70 com os eternos The Exorcist e The French Connection, sem nunca mais ter atingido um grau semelhante de sucesso critico e comercial. Com uma carreira de altos e baixos é perfeitamente natural que a sua influência esteja desvanecida dentro da industria, que aliado ao aliado ao conceito do próprio filme aumentam a probabilidade da sua marginalização em prol de projectos mais convencionais.


Eventualmente Killer Joe, encontrará o seu fenómeno de cult movie e vai adquirir uma identidade de um filme deslocado do seu tempo, um exercicio de trash cinema, que infelizmente para os padrões de hoje em dia são apelidados de OVNIS cinematográficos. Hajam mais como este.´´

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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

La piel en que Habito (2011)


de Pedro Almodovar
Antonio Banderas
Elena Anaya
Marisa Paredes



Almodóvar, numa mudança de registo, surge como uma reformulação do conto de Frakenstein de Mary Shelley, onde a criação ganha controlo sobre o seu criador, num estilo de thriller noir ambientado por flashbacks que desenvolvem a narrativa e as personagens ganham relevo e tornam-se cada vez mais complexas.

O cinema de Almodóvar é no verdadeiro sentido da palavra um cinema autoral: a forma como filma a mulher, como posiciona o seu corpo, como nos seduz com a narrativa, a excentricidade das relações, a ambiguidade das sexualidades e satiriza costumes e situações, tudo é identificável independentemente do género em que se inserem os filmes. Existe uma ou mais linhas comuns em todos os filmes do realizador, sendo que este não é excepção porém, nota-se em certos momentos uma autoreferenciação do seu próprio cinema ( a cena da violação não é sem tirar nem pôr, uma colagem de Kika?).Que significará?? uma própria homenagem? O reconhecimento de Kika como um objecto imperfeito à procura de uma operação plástica?Aqui são as personagens de  Vera e Marilia que  estavam na situação, mas vejam o filme e constatem as semelhanças. 



Rossy  dev Palma amordaçada a uma cadeirae Kika violada numa cena memorável e Vera e Marilia na mesma situação. Constatem as semlhanças


Tudo torna-se claro com uma entrevista que deu ao Cinemax, onde ele diz que ser realizador é o que mais de parecido existe equiparável a Deus. Ora a personagem de Robert é um cirurgião plástico, que no meio da tragédia e da dor, movido vingança e através da investigação, acaba por ter o dom da criação, uma segunda pele. Ora vejamos Kika é um dos filmes menos conseguidos de Almodovar, desiquilibrado na narrativa, poderemos extrapolar que Robert é Almodovar e La Piel en que habito, o filme que o realizador teria desejado para Kika?

As analogias são subtis mas claras, Almodóvar observa o seu cinema com um olhar introspectivo, povoando-o de referências quer mais classicas quer mais modernas (Martyrs parece-me outra das referências.) reformula-o e rejuvesnece-o.  Mas mesmo citando o seu cinema, La piel en que habito é um admirável filme cheio de personagens que colocariam kafka e Freud a dar um nó cego na sua mente. Adorava discutir este filme com os meus readers pois considero que  Revelar qualquer detalhe seria estragar a beleza do filme.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Martyrs (2008)


de  Pascal Laugier
Morjana Alaoui
Mylène Jampanoi 

A young woman's quest for revenge against the people who kidnapped and tormented her as a child leads her and a friend, who is also a victim of child abuse, on a terrifying journey into a living hell of depravity. Imdb


Embora não estando errada, não revela muito do que iremos ver. O filme acaba por ser um filme absolutamente desconcertante como muito poucos e para encontrar algo tão visceral temos que recuar ao ano de 2002 com Irreversível para encontrar algo semelhante. Por alguma razão tanto Gaspar Noé como Pascal Laugier são vistos como enfants terribles do novo cinema francês.

O gore presente no filme, choca, e coloca o espectador sempre desconfortável. Ao visionarem o filme irão passar por várias fases : primeiramente não perceberão as motivações das personagens, a narrativa vai sendo descortinada apenas nos momentos finais, deixando o espectador com um autentico murro no estomago. 

Não é esse o propósito do horror? Um dos significados de Martir é Testemunha, e vocês caros leitores terão que passar pelas fases todas , tal como as personagens para saber se Martyrs é um martírio de filme ou um excelente exercício de horror. Independentemente de qualquer das opções  este projecto de hora e meia ficará presente nas vossas mentes durante os dias seguintes, os efeitos do filme fermentam e acabam por deixar-nos a reflectir: A realidade consegue ser mais cruel que a ficção? Muitos diriam facilmente que sim... eu digo que neste caso que Pascal Laugier conseguiu igualar. Isso é o maior elogio que se pode fazer a um filme como este.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

The Paperboy (2012)

de Lee Daniels 
 Zac Efron
Nicole Kidman
Mathew McCounaghey
Macy Gray
John Cusack

Sinopse : Em 1969, o Jornalista Ward Jansen (Matthew McConaughey) regressa à sua terra natal, para investigar o caso de Hillary Van Wetter, condenado à pena de morte pelo homicidio de um policia racista. Jansen é acompanhado de um colega, Yardley Acheman (Oyelowo), cuja arrogância deixa toda familia desconfortável. Com a ajuda de Charlotte Bless (Kidman), uma ninfomaniaca que se corresponde e está noiva de Hillary Van Wetter e do irmão mais novo de Ward, Jack Jensen (Zac Efron), eles insurgem na zona pantanal de Florida no encalço da verdade… 


Um exercicio invulgar de excessos onde as cenas chave roçam o campy, o mau gosto, o hilariante ou até o desconfortavel, estamos perante um dos melhores filmes que apareceram em  2012.

 Um dos pontos fortes do filme é a fotografia de Roberto Schaefer que transporta-nos directamente para aquele universo pantanal sulista, utlizando uma imagem suja, como um dos primeiros filmes de John Waters ou um filme porno dos anos 70. Depois temos um elenco que entendem o passado das suas personagens, as situações a que são submetidas e onde estão inseridas. Entre as cenas de humor e de completa humilhação, a linguagem de The Paperboy é tão in your face que é impossível de ficar indiferente, mas é nos momentos mais raunchy que as personagens tornam-se mcrivelmente terrenas.

Nesse aspecto temos que admirar o trabalho dos actores e de entrega às suas personagens. Tanto Charlotte Bless como Ward Jensen são facilmente personagens que poderiam cair no ridiculo, mas com a composição de Nicole Kidman como de Mathew McCounaghey tornam-se em personagens de elevada dimensão humana.Também John Cusack nunca foi tão ameaçadoramente bom como aqui em The Paperboy e tanto Zac Efron como Macy Gray cumprem com as especificações que os seus papéis exigem.

O problema de The Paperboy é que o lado excessivo é levado a sério, de forma fria e crua, mesmo nos momentos mais descontraídos, enquanto que habitualmente esse lado mais campy seria levado com o tom ligeiro quase cartoonesco.Percebe-se porque é que Pedro Almodóvar esteve associado a este projecto. Existem elementos que pertencem ao seu cinema, mas Lee Daniels incorpora outras referencias, de Tarantino a Alan Parker, The Paperboy é um objecto fascinante, impar e cuja a própria negligencia tanto crítica como comercial apenas aumentará o seu factor de culto.



domingo, 25 de agosto de 2013

Elles (2012)

de Malgorzata Szumowska

Elles sofre de um grande problema: tenta ser muita coisa ao mesmo tempo, sem que consiga concluir o que quer que seja. É como um grande debate, onde no final não se chega a conclusão nenhuma. Anne é uma jornalista da revista Elle e encontra-se a fazer um artigo sobre prostituição estudantil em Paris. Ao ver que as duas entrevistadas aparentam apesar de todos os estigmas, uma vida feliz, começa a questionar a sua. 

Já vimos isto em muitos outros filmes e não fosse pela interpretação de Binoche, este filme passaria despercebido. A realizadora sabe filmar, sabe dirigir os seus actores, o problema é a forma como trabalha o conteúdo e a forma como ambiguamente deixa as suas pontas soltas. As estudantes tem a finalidade de moldar a forma como Anne vê a sua vida conjugal e a sua sexualidade. No final até fica a sugestão (minha opinião pessoal) que as entrevistadas com os seus depoimentos acabem por ser pedaços da sua personalidade, ou fantasias.

As personagens necessitam de uma história, de algo que as sustente. Os actores tentam fazer o melhor que podem com o material, Julliete Binoche então na cena de masturbação oferece um momento assombroso de acting mas, que não se sente verdadeiramente trabalhada no argumento. Não é a desgraça que muitos críticos apregoaram na altura da sua estreia, apenas poderia ter sido algo muito mais memorável.


Copie Conforme (2010)

de Abbas Kiarostami 
Julliette Binoche
William Schimmel
  
Sinopse : Uma mulher assiste a uma conferência de um historiador, James Miller, sobre o valor intrínseco de uma cópia.  Deixando-lhe a sua morada, eles encontram-se e no decurso do dia , sob as paisagens da Toscânia , a cópia certificada das suas vidas assumirá o original, ou será o contrário?

Abbas Kiarostami assina aqui um filme absolutamente fascinante sobre o valor intrínseco que o original tem sobre uma cópia? Essa cópia será inferior? Poderá superar o original? O realizador assume que o valor de algo está indissociavelmente ligado à ligação com o objecto que estabelece com a pessoa e ele é extremamente hábil em colocar esse ponto de reflexão, primeiro nos protagonistas, onde  na primeira parte do filme vemos as posições antagónicas dos protagonistas, onde o historiador James Miller vê a perfeição na cópia que a Natureza constantemente replica, enquanto que "ela" vê a perfeição na  quase impossibilidade de réplica na arte, que por sua vez para ele é a cópia da nossa realidade.

Segundo, na cena em que os protagonistas tomam um café, num diálogo com a dona do café em que ela  assume que eles estão casados, eles começam a assumir o papel de marido e mulher, casados há 15 anos, com um filho em comum. Qual é a história e realidade? A Cópia ou o Original? Dois estranhos que  fingem ser casados? Ou um casal que "fingem" ser estranhos um ao outro? A partir desse momento estamos a  observar uma versão moderna de "Viagem a Itália" de Roberto Rosselinni, com actualizado com influências do cinema de Richard Linklater que o realizador adapta e traduz à sua linguagem e cinema.

Abbas Kiarostami começa a fazer da narrativa, um puzzle continuo, onde o original e a cópia são relativos e cada um interpreta como deseja. Sobretudo, sendo ilusão ou realidade, Copie Conforme é uma reflexão sobre as relações e a forma como estas definem e transformam. Nós somos um objecto original, em constante mutação e como tal somos a nossa verdadeira cópia, até ao momento em que somos estranhos ao outro. Por todas as ideias que assume Copie Conforme está longe de ser uma cópia, é original, a réplica fazemos na nossa própria mente, um pouco como Antonionni, Kiarostami deixa o espectador fazer o filme tal como deseja.

Isso é terrivelmente delicioso. E diga-se extremamente raro nos dias que correm.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Adore (2013)




de Anne Fontaine
Naomi Watts
Robin Wright
Xavier Samuel
James Frecheville

Adore de Anne Fontaine é um belo melodrama um autentico tour de force por parte do duo de protagonistas Naomi Watts e Robin Wright, elas trazem credibilidade a uma história que facilmente seria caricaturável, mas a experiência de ambas actrizes e a realização segura de Anne Fontaine evitam que o filme caia em soluções dramáticas comuns e acabe por ser incrivelmente fiel à matéria-prima que deu origem ao filme. 

A gestão narrativa de Anne Fontaine é segura e não perde muito tempo em colocar o quarteto de protagonistas em clima de romance. Uma opção acertada que permite ao espectador envolver-se na história. As personagens encontram- naquele cenário paradisíaco, isolados, a dar a ideia que o tempo é imutável para estas personagens, deitados sobre o sol, num espaço e uma história que só a eles pertence, perfeitamente em sintonia.

O filme perde um pouco o foco quando incide sobre a personagem de Tom (James Frecheville). A personagem que se exclui da relação, casando com uma colega da sua idade, coloca o filme em velocidade cruzeiro, evoluindo a outra personagem masculina Ian (Xavier Samuel)  por um caminho semelhante. Um percurso que se torna a partir desse momento inevitável e a narrativa se torna de certa forma previsível. 

Anne Fontaine filma a relação como uma alegoria ao receio de envelhecer, de regressar a um lado comum onde todos fomos mais felizes. Naomi Watts e Robin Wright estão deslumbrantes nos papeis de Lil e Roz. Facilmente percebemos a sedução da ideia, a concretização dessa sedução, o porquê do eventual desencanto para mais tarde se constatar que o retorno à mesma seria apenas o unico desfecho possivel.




quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Shame (2011)


de Steve McQueen
Michael Fassbender
Carey Muligan

Eu não sei quanto a vocês, mas Michael Fassbender é actualmente (a par com Ryan Gosling), um dos melhores actores da actualidade e personagem de Brandon Sullivan a meu ver é uma das personagens mais complexas que vieram assombrar os cinemas nos ultimos anos. Brandon Sullivan (Fassbender) é um homem no auge da sua carreira, com um apartamento com vista para Manhattan, ele é viciado em sexo, ele procura o contacto desligado, como se fosse uma adição, um fardo para a vida ao limiar de desespero.

O prazer é a sensação de dever cumprido, a ejaculação a dose de droga necessária, no olhar esse momento representa dor, raiva, impotência. Consumidor ávido de pornografia, Brandon constroí um mundo onde ninguém entra, uma arte que perfeccionou. Ele é silencioso, mordaz, um predador sexual, presa em si mesmo, incapaz de sentir, incapaz de se relacionar.
Isto é posto à prova quando Sissi (Carey Mulligan) a sua irmã aparece. No fabuloso momento em que ela canta New York, New York, ela mostra dor, um sentimento de perda, como se a cidade a consumisse e ela andasse à deriva. Eles são duas faces da moeda. Ela necessita-se sentir amada, ele é incapaz de amar, ambos acabam por ser refém das suas necessidades, levando-os ao desespero, continuam a repetir as mesmas acções do passado.

Shame é um labirinto onde nos podemos perder, vezes sem conta na sua complexidade, tudo graças à composição de Fassbender e Mulligan. Eles partilham um passado que os marca, nada é revelado nesse sentido, mas sente-se. O filme vai levando-o a uma espiral de desespero, a sua incapacidade de se relacionar, a irmã consome-o, torna-o frágil, expõe-no. Ele necessita de sexo, seja hetero, gay. No final, os comportamentos repetem-se, tanto da parte dela, como dele e percebemos que esta é uma espiral infindável das qual nunca conseguirão sair.

Se Freud tivesse vivo, certamente ficaria fascinado com este filme. Adição vs personalidade? Até que ponto podemos delinear a fronteira entre ambos? Se por um lado podemos chamar vicio ao sexo frequente de Brandon? Que chamamos à mutilação constante de Sissi? Um passado comum de dor que manifesta-se de formas diferentes e que a sociedade cataloga como adição e doença? Pressão de uma sociedade cada vez mais frívola? Shame coloca estas questões, e elas vagueiam na nossa (pelo menos na minha) cabeça interminavelmente, um puzzle cinematográfico, que cada um constrói da forma como se identifica ou não com as suas personagens.

Absolutamente imperdível, e tal como as corridas por Nova York ao som de Bach, perfeito.



terça-feira, 20 de agosto de 2013

Passion(2012)



Passion
de Brian de Palma
Rachel McAdams
Noomi Rapace
Karoline Herfurth

Brian de Palma aproveita o remake de Crime d'Amour de Alain Corneau para regressar ao thriller erótico que definiu o seu cinema na década de 70 e 80, com filmes como Obsessão, Blow Out ou Dressed to Kill. Passion surge como uma revisitação nostáligica dessa época, colaborando novamente com Pino Donnagio e utilizando a mesma mise en scene hitchcockiana que fez as delicias dos seus fãs e consagrou assumidamente Brian de Palma como um dos fieis e melhores discipulos de Alfred Hitchcock.

A história tem como principal foco o jogo de manipulação  entre a directora executiva de uma multinacional agencia de publicidade (Christine) e a sua assistente Isabelle (Noomi Rapace) depois de Christine assumir os créditos de uma ideia que afinal era da sua assistente. A partir deste momento Brian de Palma vai gerindo a narratica potenciando a tensão sexual que desenvolveu entre as duas protagonistas para um jogo de subversão e de máscaras que culminará num acto do crime quase perfeito.

Todos ingredientes são familiares a quem conhece a obra do cineasta e apesar da nostalgia ser benvinda, também fica-se com a sensação de que este dejá vu é sinal de uma voz que já perdeu o seu fulgor criativo, apenas para revisitar um lugar comum demasiado confortável para tomar riscos : Passion parece inclusivamente uma obra reactiva a projectos que tem vindo a afastar o cineasta do reconhecimento crítico e publico e que precisa urgentemente de voltar a afirmar uma identidade. 





Não sendo uma obra-prima, ficamos com um curioso thriller manipulatório de máscaras onde a inocência e a culpabilidade estão de mãos dadas com o desejo e a submissão, sobretudo é a celebração de um cinema que vai ficando cada vez mais raro nos dias de hoje, onde tudo é filmado e editado de forma acelerada e imperceptível, Brian de Palma opta pelo seu estilo habitual de mise en scene lento e envolvente, como se a camara fosse deliberadamente a derradeira manipuladora da experiência cinematográfica,  pena que todas as virtudes técnicas acabam por ser prejudicadas por um já referenciado sentimento de dejá vu e sobretudo na escolha do duo de protagonistas que com interpretações amenas não transmitem a Paixão que o filme deveria enunciar.


Drive (2011)


Publicado a 26/01/2012

de Nicholas Rinding Refn
Ryan Gosling
Carey Mulligan
Albert Brooks
Bryan Cranston
Oscar Isaac
Christina Hendricks

Depois da desilusão avant-garde que foi Valhala Rising, Nicholas Rindingn Refn redime-se com Drive, um exercício pastiche de violência com referências a Steve Mcqueen, William Friedklin ou Walter Hill.  Mesmo a banda sonora segue essa linha utilizando músicas que parecem saídas dos tops de há 25 anos atrás, mas funciona.
Funciona porque temos um actor Ryan Gosling, a meu ver, o grande actor americano de momento, que consegue transpor para o ecrã o turbilhão sereno que a sua personagem é. A sua personagem é violenta porque a sua natureza assim o exige, como diz a lenda do escorpião e do sapo.Ele é percursor do filme que inclusivamente escolheu o realizador para este projecto, ainda bem que o fez porque Refn povoa o filme de pequenos excessos e vai buscar o melhor das referências, nunca as expondo demasiado, dando-lhe um toque pessoal.
Tal como Valhala Rising este é um filme de poucos diálogos, a narrativa flui através das imagens dos olhares, dos silêncios. The Driver apenas fala o necessário para conseguir, mas que Refn soube-lhe dar um toque enigmático ao não revelar nada sobre o seu passado. Driver tanto resulta pela experiência visionada, como por aquilo que fica por revelar e nesse aspecto temos que dar crédito a Rosling por não tornar a personagem unidimensional.
O fio narrativo do filme é bastante previsível, a formula já foi criada milhares de vezes, mas raras são as vezes que vemos esta fórmula tão bem executada, como que a violência gráfica se torne elemento de um quadro ora grotesco, ora artisticamente belo. A história pode ser banal, mas a forma como a executaram está longe de o ser.

Nota final : Drive a meu ver foi um dos ignorados desta edição destes Óscares, deveria pelo menos constar nas caracteristicas mais técnicas e claro Rosling deveria de ter sido nomeado duplamente pelo seus papéis em nos Idos de Março e em Drive