quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Shame (2011)


de Steve McQueen
Michael Fassbender
Carey Muligan

Eu não sei quanto a vocês, mas Michael Fassbender é actualmente (a par com Ryan Gosling), um dos melhores actores da actualidade e personagem de Brandon Sullivan a meu ver é uma das personagens mais complexas que vieram assombrar os cinemas nos ultimos anos. Brandon Sullivan (Fassbender) é um homem no auge da sua carreira, com um apartamento com vista para Manhattan, ele é viciado em sexo, ele procura o contacto desligado, como se fosse uma adição, um fardo para a vida ao limiar de desespero.

O prazer é a sensação de dever cumprido, a ejaculação a dose de droga necessária, no olhar esse momento representa dor, raiva, impotência. Consumidor ávido de pornografia, Brandon constroí um mundo onde ninguém entra, uma arte que perfeccionou. Ele é silencioso, mordaz, um predador sexual, presa em si mesmo, incapaz de sentir, incapaz de se relacionar.
Isto é posto à prova quando Sissi (Carey Mulligan) a sua irmã aparece. No fabuloso momento em que ela canta New York, New York, ela mostra dor, um sentimento de perda, como se a cidade a consumisse e ela andasse à deriva. Eles são duas faces da moeda. Ela necessita-se sentir amada, ele é incapaz de amar, ambos acabam por ser refém das suas necessidades, levando-os ao desespero, continuam a repetir as mesmas acções do passado.

Shame é um labirinto onde nos podemos perder, vezes sem conta na sua complexidade, tudo graças à composição de Fassbender e Mulligan. Eles partilham um passado que os marca, nada é revelado nesse sentido, mas sente-se. O filme vai levando-o a uma espiral de desespero, a sua incapacidade de se relacionar, a irmã consome-o, torna-o frágil, expõe-no. Ele necessita de sexo, seja hetero, gay. No final, os comportamentos repetem-se, tanto da parte dela, como dele e percebemos que esta é uma espiral infindável das qual nunca conseguirão sair.

Se Freud tivesse vivo, certamente ficaria fascinado com este filme. Adição vs personalidade? Até que ponto podemos delinear a fronteira entre ambos? Se por um lado podemos chamar vicio ao sexo frequente de Brandon? Que chamamos à mutilação constante de Sissi? Um passado comum de dor que manifesta-se de formas diferentes e que a sociedade cataloga como adição e doença? Pressão de uma sociedade cada vez mais frívola? Shame coloca estas questões, e elas vagueiam na nossa (pelo menos na minha) cabeça interminavelmente, um puzzle cinematográfico, que cada um constrói da forma como se identifica ou não com as suas personagens.

Absolutamente imperdível, e tal como as corridas por Nova York ao som de Bach, perfeito.



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