sábado, 31 de agosto de 2013

Killer Joe (2011)


de William Friedkin
Mathew McConaughey 
Emile Hirsch
Thomas Haden Church
Gina Gershon
Juno Temple.

Sinopse : Chris (Emile Hirsch) é um traficante de droga que ameaçado para liquidar as dividas, convence o pai (Thomas Haden Church) e o resto da familia a contratar os serviços de Joe (Mathew McCounaghey) para assassinar a sua mãe. Ao ficar com o seu seguro de vida, cujo o unico beneficiário é a irmã Dottie (Juno Temple) pode liquidar as suas dividas e salvar a sua vida. 

Killer Joe é o ultimo filme de William Friedkin, um realizador que depois de Bug volta a unir-se a Tracy Letts e adaptar a sua primeira peça ao cinema, que a meu ver funciona como um "southern fairy tale" uma subversão amoral do conto da Cinderela. O ponto forte do filme é o argumento que no terço final do filme adquire uma maior intensidade teatral na forma como as palavras são interpretadas. Quando o filme se fecha num unico espaço é onde o filme explode de vida, a tensão fica ao rubro e os actores entregam-se ao exagero kitsch dos seus personagens, tornando o twist final em algo perfeitamente equiparável a um filme de Tarantino.


A premissa do filme acaba por ser o menos interessante do filme e sim a interacção entre as personagens. Nesse aspecto Mathew McConaughey destaca-se, pois dá a sua personagem o magnetismo necessário para ser ameaçador (na cena do jantar) e empatico (nas cenas com Juno Temple), sem recorrer a qualquer tipo de overacting. É uma interpretação complexa que poderia cair no exagero e já vimos actores a serem galardoados por muito menos. O resto do elenco cumpre a tarefa, Gina Gershon tem aqui um papel humilhantemente corajoso, Haden Church é hilariante e tanto Hirch como Temple cumprem.

Acaba por ser frustante que este filme tenha sido um fracasso comercialmente e apesar da coragem dos actores e do realizador, os seus esforços não tenham sido devidamente recompensados. No entanto se analisarmos as tendencias dos ultimos anos, verificamos que projectos marginais como este estão dependentes de dois factores: aclamação crtica vs politica de distribuição e divulgação do próprio filme.
Sendo que a "marca" William Friedkin pertence aos anos 70 com os eternos The Exorcist e The French Connection, sem nunca mais ter atingido um grau semelhante de sucesso critico e comercial. Com uma carreira de altos e baixos é perfeitamente natural que a sua influência esteja desvanecida dentro da industria, que aliado ao aliado ao conceito do próprio filme aumentam a probabilidade da sua marginalização em prol de projectos mais convencionais.


Eventualmente Killer Joe, encontrará o seu fenómeno de cult movie e vai adquirir uma identidade de um filme deslocado do seu tempo, um exercicio de trash cinema, que infelizmente para os padrões de hoje em dia são apelidados de OVNIS cinematográficos. Hajam mais como este.´´

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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

La piel en que Habito (2011)


de Pedro Almodovar
Antonio Banderas
Elena Anaya
Marisa Paredes



Almodóvar, numa mudança de registo, surge como uma reformulação do conto de Frakenstein de Mary Shelley, onde a criação ganha controlo sobre o seu criador, num estilo de thriller noir ambientado por flashbacks que desenvolvem a narrativa e as personagens ganham relevo e tornam-se cada vez mais complexas.

O cinema de Almodóvar é no verdadeiro sentido da palavra um cinema autoral: a forma como filma a mulher, como posiciona o seu corpo, como nos seduz com a narrativa, a excentricidade das relações, a ambiguidade das sexualidades e satiriza costumes e situações, tudo é identificável independentemente do género em que se inserem os filmes. Existe uma ou mais linhas comuns em todos os filmes do realizador, sendo que este não é excepção porém, nota-se em certos momentos uma autoreferenciação do seu próprio cinema ( a cena da violação não é sem tirar nem pôr, uma colagem de Kika?).Que significará?? uma própria homenagem? O reconhecimento de Kika como um objecto imperfeito à procura de uma operação plástica?Aqui são as personagens de  Vera e Marilia que  estavam na situação, mas vejam o filme e constatem as semelhanças. 



Rossy  dev Palma amordaçada a uma cadeirae Kika violada numa cena memorável e Vera e Marilia na mesma situação. Constatem as semlhanças


Tudo torna-se claro com uma entrevista que deu ao Cinemax, onde ele diz que ser realizador é o que mais de parecido existe equiparável a Deus. Ora a personagem de Robert é um cirurgião plástico, que no meio da tragédia e da dor, movido vingança e através da investigação, acaba por ter o dom da criação, uma segunda pele. Ora vejamos Kika é um dos filmes menos conseguidos de Almodovar, desiquilibrado na narrativa, poderemos extrapolar que Robert é Almodovar e La Piel en que habito, o filme que o realizador teria desejado para Kika?

As analogias são subtis mas claras, Almodóvar observa o seu cinema com um olhar introspectivo, povoando-o de referências quer mais classicas quer mais modernas (Martyrs parece-me outra das referências.) reformula-o e rejuvesnece-o.  Mas mesmo citando o seu cinema, La piel en que habito é um admirável filme cheio de personagens que colocariam kafka e Freud a dar um nó cego na sua mente. Adorava discutir este filme com os meus readers pois considero que  Revelar qualquer detalhe seria estragar a beleza do filme.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Martyrs (2008)


de  Pascal Laugier
Morjana Alaoui
Mylène Jampanoi 

A young woman's quest for revenge against the people who kidnapped and tormented her as a child leads her and a friend, who is also a victim of child abuse, on a terrifying journey into a living hell of depravity. Imdb


Embora não estando errada, não revela muito do que iremos ver. O filme acaba por ser um filme absolutamente desconcertante como muito poucos e para encontrar algo tão visceral temos que recuar ao ano de 2002 com Irreversível para encontrar algo semelhante. Por alguma razão tanto Gaspar Noé como Pascal Laugier são vistos como enfants terribles do novo cinema francês.

O gore presente no filme, choca, e coloca o espectador sempre desconfortável. Ao visionarem o filme irão passar por várias fases : primeiramente não perceberão as motivações das personagens, a narrativa vai sendo descortinada apenas nos momentos finais, deixando o espectador com um autentico murro no estomago. 

Não é esse o propósito do horror? Um dos significados de Martir é Testemunha, e vocês caros leitores terão que passar pelas fases todas , tal como as personagens para saber se Martyrs é um martírio de filme ou um excelente exercício de horror. Independentemente de qualquer das opções  este projecto de hora e meia ficará presente nas vossas mentes durante os dias seguintes, os efeitos do filme fermentam e acabam por deixar-nos a reflectir: A realidade consegue ser mais cruel que a ficção? Muitos diriam facilmente que sim... eu digo que neste caso que Pascal Laugier conseguiu igualar. Isso é o maior elogio que se pode fazer a um filme como este.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

The Paperboy (2012)

de Lee Daniels 
 Zac Efron
Nicole Kidman
Mathew McCounaghey
Macy Gray
John Cusack

Sinopse : Em 1969, o Jornalista Ward Jansen (Matthew McConaughey) regressa à sua terra natal, para investigar o caso de Hillary Van Wetter, condenado à pena de morte pelo homicidio de um policia racista. Jansen é acompanhado de um colega, Yardley Acheman (Oyelowo), cuja arrogância deixa toda familia desconfortável. Com a ajuda de Charlotte Bless (Kidman), uma ninfomaniaca que se corresponde e está noiva de Hillary Van Wetter e do irmão mais novo de Ward, Jack Jensen (Zac Efron), eles insurgem na zona pantanal de Florida no encalço da verdade… 


Um exercicio invulgar de excessos onde as cenas chave roçam o campy, o mau gosto, o hilariante ou até o desconfortavel, estamos perante um dos melhores filmes que apareceram em  2012.

 Um dos pontos fortes do filme é a fotografia de Roberto Schaefer que transporta-nos directamente para aquele universo pantanal sulista, utlizando uma imagem suja, como um dos primeiros filmes de John Waters ou um filme porno dos anos 70. Depois temos um elenco que entendem o passado das suas personagens, as situações a que são submetidas e onde estão inseridas. Entre as cenas de humor e de completa humilhação, a linguagem de The Paperboy é tão in your face que é impossível de ficar indiferente, mas é nos momentos mais raunchy que as personagens tornam-se mcrivelmente terrenas.

Nesse aspecto temos que admirar o trabalho dos actores e de entrega às suas personagens. Tanto Charlotte Bless como Ward Jensen são facilmente personagens que poderiam cair no ridiculo, mas com a composição de Nicole Kidman como de Mathew McCounaghey tornam-se em personagens de elevada dimensão humana.Também John Cusack nunca foi tão ameaçadoramente bom como aqui em The Paperboy e tanto Zac Efron como Macy Gray cumprem com as especificações que os seus papéis exigem.

O problema de The Paperboy é que o lado excessivo é levado a sério, de forma fria e crua, mesmo nos momentos mais descontraídos, enquanto que habitualmente esse lado mais campy seria levado com o tom ligeiro quase cartoonesco.Percebe-se porque é que Pedro Almodóvar esteve associado a este projecto. Existem elementos que pertencem ao seu cinema, mas Lee Daniels incorpora outras referencias, de Tarantino a Alan Parker, The Paperboy é um objecto fascinante, impar e cuja a própria negligencia tanto crítica como comercial apenas aumentará o seu factor de culto.



domingo, 25 de agosto de 2013

Elles (2012)

de Malgorzata Szumowska

Elles sofre de um grande problema: tenta ser muita coisa ao mesmo tempo, sem que consiga concluir o que quer que seja. É como um grande debate, onde no final não se chega a conclusão nenhuma. Anne é uma jornalista da revista Elle e encontra-se a fazer um artigo sobre prostituição estudantil em Paris. Ao ver que as duas entrevistadas aparentam apesar de todos os estigmas, uma vida feliz, começa a questionar a sua. 

Já vimos isto em muitos outros filmes e não fosse pela interpretação de Binoche, este filme passaria despercebido. A realizadora sabe filmar, sabe dirigir os seus actores, o problema é a forma como trabalha o conteúdo e a forma como ambiguamente deixa as suas pontas soltas. As estudantes tem a finalidade de moldar a forma como Anne vê a sua vida conjugal e a sua sexualidade. No final até fica a sugestão (minha opinião pessoal) que as entrevistadas com os seus depoimentos acabem por ser pedaços da sua personalidade, ou fantasias.

As personagens necessitam de uma história, de algo que as sustente. Os actores tentam fazer o melhor que podem com o material, Julliete Binoche então na cena de masturbação oferece um momento assombroso de acting mas, que não se sente verdadeiramente trabalhada no argumento. Não é a desgraça que muitos críticos apregoaram na altura da sua estreia, apenas poderia ter sido algo muito mais memorável.


Copie Conforme (2010)

de Abbas Kiarostami 
Julliette Binoche
William Schimmel
  
Sinopse : Uma mulher assiste a uma conferência de um historiador, James Miller, sobre o valor intrínseco de uma cópia.  Deixando-lhe a sua morada, eles encontram-se e no decurso do dia , sob as paisagens da Toscânia , a cópia certificada das suas vidas assumirá o original, ou será o contrário?

Abbas Kiarostami assina aqui um filme absolutamente fascinante sobre o valor intrínseco que o original tem sobre uma cópia? Essa cópia será inferior? Poderá superar o original? O realizador assume que o valor de algo está indissociavelmente ligado à ligação com o objecto que estabelece com a pessoa e ele é extremamente hábil em colocar esse ponto de reflexão, primeiro nos protagonistas, onde  na primeira parte do filme vemos as posições antagónicas dos protagonistas, onde o historiador James Miller vê a perfeição na cópia que a Natureza constantemente replica, enquanto que "ela" vê a perfeição na  quase impossibilidade de réplica na arte, que por sua vez para ele é a cópia da nossa realidade.

Segundo, na cena em que os protagonistas tomam um café, num diálogo com a dona do café em que ela  assume que eles estão casados, eles começam a assumir o papel de marido e mulher, casados há 15 anos, com um filho em comum. Qual é a história e realidade? A Cópia ou o Original? Dois estranhos que  fingem ser casados? Ou um casal que "fingem" ser estranhos um ao outro? A partir desse momento estamos a  observar uma versão moderna de "Viagem a Itália" de Roberto Rosselinni, com actualizado com influências do cinema de Richard Linklater que o realizador adapta e traduz à sua linguagem e cinema.

Abbas Kiarostami começa a fazer da narrativa, um puzzle continuo, onde o original e a cópia são relativos e cada um interpreta como deseja. Sobretudo, sendo ilusão ou realidade, Copie Conforme é uma reflexão sobre as relações e a forma como estas definem e transformam. Nós somos um objecto original, em constante mutação e como tal somos a nossa verdadeira cópia, até ao momento em que somos estranhos ao outro. Por todas as ideias que assume Copie Conforme está longe de ser uma cópia, é original, a réplica fazemos na nossa própria mente, um pouco como Antonionni, Kiarostami deixa o espectador fazer o filme tal como deseja.

Isso é terrivelmente delicioso. E diga-se extremamente raro nos dias que correm.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Adore (2013)




de Anne Fontaine
Naomi Watts
Robin Wright
Xavier Samuel
James Frecheville

Adore de Anne Fontaine é um belo melodrama um autentico tour de force por parte do duo de protagonistas Naomi Watts e Robin Wright, elas trazem credibilidade a uma história que facilmente seria caricaturável, mas a experiência de ambas actrizes e a realização segura de Anne Fontaine evitam que o filme caia em soluções dramáticas comuns e acabe por ser incrivelmente fiel à matéria-prima que deu origem ao filme. 

A gestão narrativa de Anne Fontaine é segura e não perde muito tempo em colocar o quarteto de protagonistas em clima de romance. Uma opção acertada que permite ao espectador envolver-se na história. As personagens encontram- naquele cenário paradisíaco, isolados, a dar a ideia que o tempo é imutável para estas personagens, deitados sobre o sol, num espaço e uma história que só a eles pertence, perfeitamente em sintonia.

O filme perde um pouco o foco quando incide sobre a personagem de Tom (James Frecheville). A personagem que se exclui da relação, casando com uma colega da sua idade, coloca o filme em velocidade cruzeiro, evoluindo a outra personagem masculina Ian (Xavier Samuel)  por um caminho semelhante. Um percurso que se torna a partir desse momento inevitável e a narrativa se torna de certa forma previsível. 

Anne Fontaine filma a relação como uma alegoria ao receio de envelhecer, de regressar a um lado comum onde todos fomos mais felizes. Naomi Watts e Robin Wright estão deslumbrantes nos papeis de Lil e Roz. Facilmente percebemos a sedução da ideia, a concretização dessa sedução, o porquê do eventual desencanto para mais tarde se constatar que o retorno à mesma seria apenas o unico desfecho possivel.




quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Shame (2011)


de Steve McQueen
Michael Fassbender
Carey Muligan

Eu não sei quanto a vocês, mas Michael Fassbender é actualmente (a par com Ryan Gosling), um dos melhores actores da actualidade e personagem de Brandon Sullivan a meu ver é uma das personagens mais complexas que vieram assombrar os cinemas nos ultimos anos. Brandon Sullivan (Fassbender) é um homem no auge da sua carreira, com um apartamento com vista para Manhattan, ele é viciado em sexo, ele procura o contacto desligado, como se fosse uma adição, um fardo para a vida ao limiar de desespero.

O prazer é a sensação de dever cumprido, a ejaculação a dose de droga necessária, no olhar esse momento representa dor, raiva, impotência. Consumidor ávido de pornografia, Brandon constroí um mundo onde ninguém entra, uma arte que perfeccionou. Ele é silencioso, mordaz, um predador sexual, presa em si mesmo, incapaz de sentir, incapaz de se relacionar.
Isto é posto à prova quando Sissi (Carey Mulligan) a sua irmã aparece. No fabuloso momento em que ela canta New York, New York, ela mostra dor, um sentimento de perda, como se a cidade a consumisse e ela andasse à deriva. Eles são duas faces da moeda. Ela necessita-se sentir amada, ele é incapaz de amar, ambos acabam por ser refém das suas necessidades, levando-os ao desespero, continuam a repetir as mesmas acções do passado.

Shame é um labirinto onde nos podemos perder, vezes sem conta na sua complexidade, tudo graças à composição de Fassbender e Mulligan. Eles partilham um passado que os marca, nada é revelado nesse sentido, mas sente-se. O filme vai levando-o a uma espiral de desespero, a sua incapacidade de se relacionar, a irmã consome-o, torna-o frágil, expõe-no. Ele necessita de sexo, seja hetero, gay. No final, os comportamentos repetem-se, tanto da parte dela, como dele e percebemos que esta é uma espiral infindável das qual nunca conseguirão sair.

Se Freud tivesse vivo, certamente ficaria fascinado com este filme. Adição vs personalidade? Até que ponto podemos delinear a fronteira entre ambos? Se por um lado podemos chamar vicio ao sexo frequente de Brandon? Que chamamos à mutilação constante de Sissi? Um passado comum de dor que manifesta-se de formas diferentes e que a sociedade cataloga como adição e doença? Pressão de uma sociedade cada vez mais frívola? Shame coloca estas questões, e elas vagueiam na nossa (pelo menos na minha) cabeça interminavelmente, um puzzle cinematográfico, que cada um constrói da forma como se identifica ou não com as suas personagens.

Absolutamente imperdível, e tal como as corridas por Nova York ao som de Bach, perfeito.



terça-feira, 20 de agosto de 2013

Passion(2012)



Passion
de Brian de Palma
Rachel McAdams
Noomi Rapace
Karoline Herfurth

Brian de Palma aproveita o remake de Crime d'Amour de Alain Corneau para regressar ao thriller erótico que definiu o seu cinema na década de 70 e 80, com filmes como Obsessão, Blow Out ou Dressed to Kill. Passion surge como uma revisitação nostáligica dessa época, colaborando novamente com Pino Donnagio e utilizando a mesma mise en scene hitchcockiana que fez as delicias dos seus fãs e consagrou assumidamente Brian de Palma como um dos fieis e melhores discipulos de Alfred Hitchcock.

A história tem como principal foco o jogo de manipulação  entre a directora executiva de uma multinacional agencia de publicidade (Christine) e a sua assistente Isabelle (Noomi Rapace) depois de Christine assumir os créditos de uma ideia que afinal era da sua assistente. A partir deste momento Brian de Palma vai gerindo a narratica potenciando a tensão sexual que desenvolveu entre as duas protagonistas para um jogo de subversão e de máscaras que culminará num acto do crime quase perfeito.

Todos ingredientes são familiares a quem conhece a obra do cineasta e apesar da nostalgia ser benvinda, também fica-se com a sensação de que este dejá vu é sinal de uma voz que já perdeu o seu fulgor criativo, apenas para revisitar um lugar comum demasiado confortável para tomar riscos : Passion parece inclusivamente uma obra reactiva a projectos que tem vindo a afastar o cineasta do reconhecimento crítico e publico e que precisa urgentemente de voltar a afirmar uma identidade. 





Não sendo uma obra-prima, ficamos com um curioso thriller manipulatório de máscaras onde a inocência e a culpabilidade estão de mãos dadas com o desejo e a submissão, sobretudo é a celebração de um cinema que vai ficando cada vez mais raro nos dias de hoje, onde tudo é filmado e editado de forma acelerada e imperceptível, Brian de Palma opta pelo seu estilo habitual de mise en scene lento e envolvente, como se a camara fosse deliberadamente a derradeira manipuladora da experiência cinematográfica,  pena que todas as virtudes técnicas acabam por ser prejudicadas por um já referenciado sentimento de dejá vu e sobretudo na escolha do duo de protagonistas que com interpretações amenas não transmitem a Paixão que o filme deveria enunciar.


Drive (2011)


Publicado a 26/01/2012

de Nicholas Rinding Refn
Ryan Gosling
Carey Mulligan
Albert Brooks
Bryan Cranston
Oscar Isaac
Christina Hendricks

Depois da desilusão avant-garde que foi Valhala Rising, Nicholas Rindingn Refn redime-se com Drive, um exercício pastiche de violência com referências a Steve Mcqueen, William Friedklin ou Walter Hill.  Mesmo a banda sonora segue essa linha utilizando músicas que parecem saídas dos tops de há 25 anos atrás, mas funciona.
Funciona porque temos um actor Ryan Gosling, a meu ver, o grande actor americano de momento, que consegue transpor para o ecrã o turbilhão sereno que a sua personagem é. A sua personagem é violenta porque a sua natureza assim o exige, como diz a lenda do escorpião e do sapo.Ele é percursor do filme que inclusivamente escolheu o realizador para este projecto, ainda bem que o fez porque Refn povoa o filme de pequenos excessos e vai buscar o melhor das referências, nunca as expondo demasiado, dando-lhe um toque pessoal.
Tal como Valhala Rising este é um filme de poucos diálogos, a narrativa flui através das imagens dos olhares, dos silêncios. The Driver apenas fala o necessário para conseguir, mas que Refn soube-lhe dar um toque enigmático ao não revelar nada sobre o seu passado. Driver tanto resulta pela experiência visionada, como por aquilo que fica por revelar e nesse aspecto temos que dar crédito a Rosling por não tornar a personagem unidimensional.
O fio narrativo do filme é bastante previsível, a formula já foi criada milhares de vezes, mas raras são as vezes que vemos esta fórmula tão bem executada, como que a violência gráfica se torne elemento de um quadro ora grotesco, ora artisticamente belo. A história pode ser banal, mas a forma como a executaram está longe de o ser.

Nota final : Drive a meu ver foi um dos ignorados desta edição destes Óscares, deveria pelo menos constar nas caracteristicas mais técnicas e claro Rosling deveria de ter sido nomeado duplamente pelo seus papéis em nos Idos de Março e em Drive


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Only God Forgives (2013)



de: Nicolas Winding Refn
Ryan Gosling
Kristin Scott Thomas
Vithaya Pansringarm



Visualmente hipnótico, banda sonora operática e megalomana, as virtudes técnicas a roçar a perfeição, poderiam fazer de Only God Forgives, uma obra-prima, não fosse a impenetrabilidade das suas personagens e o minimalismo extremo da história que polariza as opiniões de todos que visionam este filme. Há quem veja em Only God Forgives uma obra superior, cheia de analogias e significados que requer várias visualizações para ser correctamente interpretado, outros criticam o minimalismo narrativo e classificam-no como um claro caso de style over matter.

A sensação é que apesar de desconcertante, Only God Forgives parece um filme demasiado precipitado, uma obra cuja razão de ser surge principalmente para capitalizar a parceria Refn-Gosling, depois da aclamação critica e da aceitação pública de Drive. Formalmente parecido a Drive, a grande diferença reside que enquanto que em Drive nutre-se empatia pelas suas personagens, em Only God Forgives a empatia dá lugar à indiferença. e caso Refn tivesse investido mais em revelar algo mais sobre as personagens e desenvolver este mundo politicamente incorrecto, talvez estivessemos perante um filme diferente e não tão frustrante.

A dedicatória a Jodorowsky e a Gaspar Noé é óbvia. Crystal de Kristin Scott Thomas, uma figura egoísta e hedónica, desligada dos seus filhos parece saída directamente de um filme de Jodorowsky, bem como a violência crua e estilizada seriam facilmente confundiveis com o realizador de Gaspar Noé, se bem que na cena fulcral do filme ( a tortura no bar de karaoke) parece citar Reservoir Dogs ou the Killing.

Referencias aparte não chegam para tornar este filme numa experiência absolutamente satisfatória ou intrigante sequer. Only God Forgives acaba por resultar num espectaculo díspar, bonito por fora e oco por dentro, num exercício demasiado austero para ser relevante.



domingo, 18 de agosto de 2013

Dans la Maison (2012)



de François Ozon 
Fabrice Luchini
Ernst Umhaeu
Emmanuelle Seigner
 Kristin Scott Thomas
Denis Menochet
Bastian Ughetto 


Big Brother is not watching, but writting about you...


Dans la Maison é reflexo da maturidade de François Ozon como cineasta. Ele é como Claude, um promissor talento que está a aprimorar a sua técnica em busca da perfeição, manupulador e sabendo-se posicionar como pupilo e surpreender em determinados momentos. Vejam o papel do professor Germain como todos os mestres que o influenciam e o moldaram como cineasta: Hitchcock, Cukor ou então Woody Allen. Eles estão lá, dão o seu contributo, mas em Dans la Maison, Ozon afirma-se como mestre do seu cinema e tal como Claude, arquitecta a narrativa, manipulando as personagens e manipulando-nos.

A história é muito simples: Germain, um professor de francês manda um trabalho para os alunos relatarem os seus fim de semana. No meio da progressiva mediocridade dos trabalhos, depara-se com o Trabalho de Claude, onde ele relata o dia-a-dia da família Artole. O tom condescendente, a descrição detalhada e sarcástica suscitam a curiosidade voyeurista do professor e da sua mulher que aos poucos vão sendo atraídos pela narrativa.

 O professor vê em Claude o potencial que nunca teve e tenta- o desenvolver e Claude por sua vez vê a oportunidade de descrever algo que sempre teve curiosidade em conhecer. Ele é criador, manipulador e sobretudo explorador daquele microcosmos que até aquele momento estaria alheio e Dans la Maison é sobretudo a celebração do cinema de Ozon: A comunhão entre comédia, sarcasmo, melodrama e suspense, tudo olhado de forma equilibrada e com a mestria de um realizador que já nos deu pérolas como Sob a Areia, 8 Mulheres ou Swimming Pool.

Na dinâmica entre professor – aluno, analisa-se a evolução de um cineasta que sempre viu-se subjugado à incapacidade de transcender as influencias que cita, mas que tal como Claude manipula-as e em certa forma acaba por se afirmar com bastante mestria superior às mesmas. Aliado a interpretações muito sólidas de todo o elenco, Ozon oferece uma obra assustadoramente simples com várias camadas para interpretação.

Poderia-se analisar a história frame por frame e continuaríamos a estar perante uma narrativa singular. Mas o fascínio deste filme vai além de uma casa e das suas personagens, mas sim para quem observa. Da mesma forma que Claude e Germain terminam o filme observando potenciais narrativas, Ozon também observou e manipulou-nos como o rapaz na ultima fila.

Sem duvida um dos melhores deste ano.



Coisa Ruim (2005)


Coisa Ruim 
de Tiago Guedes e Frederico Serra
Adriano Luz
Manuela Couto
Afonso Pimentel
Sara Carinhas


Revi novamente o filme de "estreia" de Tiago Guedes e Frederico Serra e que vos posso dizer deste filme? Quando o vi pela primeira vez estava convencido que iria ver um fime de terror: Saí desiludido. Tentei-me abstrair do género, não o classificando, observando unicamente em termos de objecto cinematográfico e a análise é francamente positiva.

Erradamente apelidado como o primeiro filme de terror português - efeitos de marketing que só prejudicam, este filme anda pelos ambientes certos. Talvez um drama familiar, onde crenças religiosas se misturam com maldições passadas, num argumento muito bem construido por Rodrigo Guedes de Carvalho, e cuja dupla de Realizadores Tiago Guedes souberam transpor para o grande ecrã. Assim à primeira vista, temos um filme que vai buscar as influências a "The Shinning" e a "The Others", a narrativa vai evoluindo lentamente até levar onde é pretendido. 



Quem embarcar em Coisa Ruim, poderá achar que não está a ver uma obra-prima, mas consegue algo muito louvável que é citar as suas influências, sem que em momento algum faça-o de forma difamatória, em vez disso transforma a ruralidade portuguesa - algo que goste-se ou não é uma identidade nossa -  em objecto do sobrenatural e numa discussão constante entre o lógico e o fantástico, fé e ciencia. Um dos melhores filmes portugueses da década passada.



Têm aqui o filme completo, caso queiram ver ou rever!




sábado, 17 de agosto de 2013

The Bling Ring (2013)



de: Sofia Coppola
Katie Chang
Israel Broussard
Emma Watson
Taissa Farmiga
Leslie Mann

Que é que as adolescentes de Bling Ring tem em comum com as Lisbon Girls, com Charlotte de Lost in Translation,  Marie Antoinette ou então Cleo de Somewhere? Mais uma vez é o seu sentido de isolamento e de alienação que parece ser a marca autoral da realizadora.Em Bling Ring é explorado os efeitos da pop culture sobre esta geração. Uma geração mais futil, consumista, com acesso fácil a informação e às redes sociais mas continuadamente isolados e alienados da sociedade.

Inspirado num artigo da Vanity Fair ( "The Suspects wore Louboutins"), o filme retrata Gang de Hollywood Hills, um grupo de adolescentes de classe média alta que durante o ano de 2008 e 2009 roubaram cerca de 3 milhões de Dolares em bens pessoais e dinheiro de celebridades como Paris Hilton, Lindsay Lohan, Rachel Bilson ou Orlando Bloom. 

Sofia Coppola olha para estes adolecentes como resultado de um esvaziamento cultural progressivo muito por culpa de uma cultura ávida de curiosidade pelo mundo de celebridades e luxuria, que inundam os meios de comunicação, fonte de entretenimento às massas desde a ultima década. A realizadora observa distante e irónica este grupo de adolescentes, vampiros por fama, eles viajam de casa em casa como a derradeira experiência de viver o status quo dos seus idolos, usar os seus objectos e incorporá-los. 

Não existem objectivos, não existe moral nem causa para os actos, nem a realizadora está interessada em justificar ou estudar o porquê dos seus actos, daí advém grande partes das criticas ao filme como sendo um olhar frio e distante de uma geração sem absolutamente identidade própria, mas aí reside a própria força do filme, dando uma aura quase documental ao filme, cingindo-se aos factos e alinando-se num elenco jovem que cumpre e contribui para o tom humoristico e tragico-satirico que o filme adquire.

Em termos de interpretações o destaque vai para Emma Watson, que é verdadeiramente deslubrante como Nikki, a adolescente conscientemente futil. Ela rouba todas as cenas em que entra e dá ao filme a sátira que necessita, esta personagem seria facilmente caricaturável, Nikki é interpretada com uma complexidade que a torna assustadoramente real e não meramente uma caricatura. 


Os adolescentes de Bling Ring são uns inadaptados, alienados em busca de algo que os preencha. A realidade não lhes pertence, a ficção é bem mais apetecível:  A personagem de Rebecca numa das cenas chave do filme enquanto olha para o espelho em casa de Lindsay Lohan, usando a sua maquilhagem e a sua roupa, experiencia um momento de felicidade enquanto que a personagem de Marc no entanto procura a aceitação e o reconhecimento publico que nunca teve. Personagens lost in translation, fruto de uma sociedade consumista e despreocupada.que na sua ingenuidade executam sem pensar nas consequencias. 

Retratos de uma geração que mais que nunca não conseguem delimitar o conceito de privacidade. As personagens de Virgens Suicidas estava isoladas do mundo e procuravam qualquer oportunidade para se escapulir do mundo real. Os jovens de Bling Ring estão no extremo oposto: Jovens livres, despreocupados, que procuram qualquer oportunidade para escapulir do mundo real.

Eras diferentes, as mesmas necessidades. Este é o cinema de Sofia Coppola.



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Elysium (2013)


Elysium 
Realização: Neil Blomkamp 
 Matt Damon 
Jodie Foster 
Wagner Moura 
Alice Braga 
Diego Luna 



Até que ponto o trailer pode ajudar ou prejudicar a imagem de um filme? O trailer deve ser meramente uma ferramenta de comunicação que editada coerentemente deve: contar em traços gerais a história e suscitar a curiosidade para ver o filme. O trailer quando visionado acaba por suscitar expectativas. Essas expectativas são sinal de que a ferramenta de marketing funcionou (bem ou mal), restando só à pessoa que compra o bilhete de disfrutar o filme. Ela no final dir-lhe-á se o filme foi satisfatório ou não. Elysium cumpre o objectivo do trailer mas depois como filme, a história é outra.

Elysium acaba por ser mais um caso de uma montanha que pariu um rato. Todas as ideias que continha são recicladas de outros filmes e as ideias que tem são todas mal executadas. O futuro distopiano e o comentário social que Blomkamp propõe de um serviço nacional ( ou neste caso planetário) de saúde é tratado de forma leviana com personagens e situações são estereotipadas.

Fica-se com a sensação que Elysium teria material para ser bem mais complexo do que é, se tivesse sido mais desenvolvido. Esse desenvolvimento deveria de começar pelas personagens que aparentam andar à deriva e seguem uma formula vista milhares de vezes.Os antagonistas Jodie Foster e Sharlto Copley optam por um overacting desnecessário e os brasileiros Alice Braga e Wagner Moura e Diego Luna compõem a suas personagens de forma estereotipada e em alguns casos de forma risível (Wagner Moura é especialmente irritante como Spider)

 Sinceramente gostaria de ter gostado de Elysium, o trailer fez me pensar num filme completamente diferente, gostaria que o mundo de ELysium fosse algo fascinante de ser explorado, uma verdadeira distopia social, em vez disso somos brindados por um blockbuster banal que tenta ser marginal à formula, mas que fica apenas pela tentativa, sendo igual a tantos outros e copiando a sua fórmula.