terça-feira, 24 de setembro de 2013

Les Bien- Aimés (2010)

de Christophe Honoré
Ludivigne Sagnier
Catherine Deneuve
Raivoje Bukvic
Chiara Mastroianni
Louis Garrel
Milos Forman
Paul Schneider



Uma odisseia musical da relação entre mãe e filha e as suas relações com os homens da sua vida. O filme começa com a personagem de Madeleine ( Ludivigne Sagnier/ Catherine Deneuve) a conhecer Jaromil Passer ( Radivoje Bukvic/ Milos Forman). Ela é uma consumista, ambiciosa por conhecer um homem que a sustente até que conhece Jaromil um médico checo de passagem por França. Casam-se e tem uma filha Vera (Clara Coste/Chiara Mastroianni).


A vida como casal será breve, uma vez que Jaromil é incapaz de ser fiel a Madeleine. Em plena Primavera de Praga, Madeleine volta para Paris com Vera, refaz a vida e casa-se novamente, mas só com as investidas de Jaromil é que se sente completa.
As investidas e os encontros vão se sucedendo, o tempo vai passando e Vera vai ganhando protagonismo, dando origem a mais um arco narrativo. Neste encontram-se Vera ( Chiara Mastroianni), Clement( Louis Garrel) e Henderson (Paul Schneider). Aqui é o tipico triãngulo Clement gosta da sua ex-namorada Vera que por sua vez se apaixona por Henderson, um baterista gay seropositvo


Considero que é neste arco que está a principal falha do filme. Existe aqui um certo maniqueismo do realizador em querer colocar as personagens em situações limite  e subjuga-las a isso. Vera, vive um amor proíbido, de certa forma correspondido, mas considero que as pretensões que levam â sua autodestruição são erradas ou usadas propositadamente para fins melodramáticos. Coloca-los em acontecimentos chave da nossa sociedade também parece-me uma forçada contextualização.
Sempre vi Chistophe Honoré um realizador influenciado por Ozon na forma como usa as cores, o seu estilo visual, mas considero que os filmes de Honoré sejam de uma forma geral mais figuras de estilo que propriamente obras que respirem cinema e personagens. Confesso que gostei mais deste Les Bien Aimés que Les Chansons d'amour, existe aqui uma farsa encantadora mais bem estruturada que nos outros filmes, dando piscadelas de olhos a Homme au Bain com a personagem de Omar num cameo.

Injustamente maltratado pela nossa imprensa portuguesa, Les bien Aimés tem muitos pontos a seu favor. Os numeros musicais desta nova colaboração com Alex Beaupain dando coesão à narrativa, mas ainda não é a obra pela qual Honoré vai ser relembrado, mas andou lá perto não fossem as pequenas falhas.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Le Temps qui Reste (2005)


de François Ozon

Melvil Poupaud, 
Jeanne Moreau, 
Valeria Bruni Tedeschi



François Ozon, depois de 5x2, resolveu debruçar-se sobre a sua trilogia sobre a morte e dá-nos o segundo filme da trilogia, depois de Sans la Sable. Admira-se o registo directo e crú que Ozon imprime a Le Temp qui Reste. O destino fatalista de Romain poderia facilmente dar lugar a subterfúgios que são lugar comum deste tipo de filmes, mas Ozon evita o dramatismo excessivo, o que interessa é a personagem Romain e a sua transformação aos nossos olhos.O tema da morte é recorrente no cinema e toda a gente sabe qual será o desfecho, cabe ao realizador imprimir ao filme uma veia mais ou menos dramática , Le Temps qui reste opta por abordagem mais introspectiva, como se coubesse ao protagonista, uma viagem pela nostalgia do seu passado.
Nesse aspecto, temos que agradecer a Melvil Poupaud que constrói uma personagem carismática que evita o overacting e o excesso de dramatismo. A personagem de Romain é uma miríade de emoções reprimidas que estão em constante conflito com a inevitabilidade do seu destino e a nostalgia das suas recordações. Quando Romain vê o seu futuro segmentado a uns meros meses, ele começa um processo de isolamento e de instropecção, na qual começamos a perceber ou a criar empatia com o seu lado mais arrogante e agressivo. Romain continua o mesmo, apenas transforma-se aos nossos olhos. Não diria que estejamos perante um caso de indulgent self pity, mas sim de um exemplo mais naturalista de character development que só François Ozon sabe fazer. É na cena com Jeanne Moreau que percebemos que é um elemento não entendido da família e que tal como ela, o futuro é uma perspectiva a curto prazo, algo que destoa completamente dos restantes membros da familia  François Ozon está confortável nestas águas, é a sua assinatura como autor, mas como os seus restantes filmes, existe material mais que suficiente para elevar o seu potencial. Em Le Temps qui reste, o problema reside num esquematismo do argumento que existe no ultimo terço final, onde a personagem de Valéria Bruni Tedeschi surge de forma conveniente para conceder ao protagonista uma forma não de se redimir, mas para tornar o seu destino menos fatalista.  Faltou a Temps qui Reste arriscar um pouco mais


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Gebo e a Sombra (2012)




de Manoel de Oliveira  
Michael Lonsdale
Leonor Silveira
Claudia Cardinale
Jeanne Moreau
Luis Miguel Cintra
Ricardo Trepa

Sinopse: Gebo é um cansado contabilista que vive numa casa empobrecida, com a sua mulher Doroteia (Claudia Cardinale) e a sua Nora (Leonor Silveira). Apesar das dificuldades, o que lhes mais atormenta é a ausência do seu filho João, que saiu de casa em busca de uma aparente vida melhor. A ausência de João acarreta alguns segredos que só Gebo sabe até ao momento em que João regressa...

Vamos constatar o óbvio : Manoel de Oliveira com 103 anos é um caso invejável longevidade na história do cinema português, ao realizar um filme por ano. Agora será isso suficiente para indicar as excelentes criticas que O Gebo e a Sombra tem tido? 

Manoel de Oliveira : Ama-se ou Odeia-se?

Aliás há uma determinada fase do cinema autoral em que qualquer filme que saia seja sinal de boas criticas. Manoel de Oliveira é um desses casos em que tem a imprensa especializada rendida à longevidade do seu trabalho e a sua coerencia. Isso não está posto em causa, agora quando se critica um cineasta por se tornar rotineiro (Woody Allen é um desses casos) não se poderia criticar Manoel de Oliveira dessa mesma rotina? 

Não me parece que nesta fase da sua vida, o realizador queira inovar a sua fórmula narrativa dos seus filmes,mas salvo raras excepções sempre achei o cinema de Manoel de Oliveira muito fechados em si mesmo, indiferente a quem o poderia vir a estar a ver, apenas e só para consumo interno. Não digo que com isso Gebo e a Sombra não tenha os seus momentos, mas enquanto que todos aplaudem as actuações, não consigo me abstrair de toda a artificialidade que Gebo e a Sombra oferece. 

Em Gebo e a Sombra grande parte do filme passa-se numa sala fechada onde  verbaliza-se os todos pensamentos em monólogos e diálogos, quando os silêncios poderiam ser bem mais eficazes. Um filme- teatro, onde a forma condiciona o conteúdo cabe a quem está a ver o filme, identificar-se (ou não) com este tipo de linguagem. Eu recaio no segundo grupo.

Embora seja importante perceber o que o realizador quer transmitir é necessário que se estabeleça um elo de ligação entre o espectador e o objecto cinematográfico. Tirando alguns momentos mais inspirados ( quase todos nos diálogos onde entra Jeanne Moreau), não senti essa ligação... O que é pena... ainda não foi desta que fiquei seduzido ao cinema de Manoel de Oliveira...

O melhor : Jeanne Moreau.
O pior : A artificialidade teatral disfarçada de grandes interpretações.



terça-feira, 17 de setembro de 2013

The Hours (2002)


de Stephen Daldry
Nicole Kidman
Julliane Moore
Meryl Streep
Ed Harris
Jeff Daniels
Toni Collete
John C. Reilly
Claire Daines
Allison Janney


Uma boa adaptação?
Um problema que já debati aqui ao criticar filmes que sejam adaptações literárias, é que se explore em demasia determinados detalhes e acabe-se por negligenciar outros tantos. Para uma pessoa que leia a obra literária, o resultado é uma experiência desigual de emoções, por considerar sempre que falta "quelque chose". Então qual é o principal objectivo de uma boa adaptação cinematográfica de livro?Em primeiro lugar, o filme deverá falar uma linguagem literária, ou seja, nem ser tudo muito evidente, nem ser enigmático demais, como um livro fechado em si mesmo. A linguagem literária que aqui refiro deve ser da responsabilidade primeiro, do argumento e segundo dos actores que o interpretam, que precisam de ter uma maturidade que o permitam ter a complexidade exigida.Em segundo lugar e isto vem em detrimento do ponto anterior, estamos perante uma boa adaptação cinematográfica quando o filme em vez de "consumir" o livro, coexiste com ele. Tem-se que ter a noção de que são expressões artísticas distintas, logo quando temos dois objectos que se complementam, mas que valem por si só, então estamos perante uma boa adaptação cinematográfica.

Crítica
Stephen Daldry, teve a coragem de adaptar o romance de Cunningham e o resultado final é excelente. Dirigindo um elenco de estrelas como Meryl Streep, Julianne Moore, Nicole Kidman - que venceu aqui Oscar - ou Ed Harris, Daldry gere com mestria os 3 tempos por onde o livro/filme viaja. Se aliarmos a perfeição narrativa com uma banda sonora de excelência de Phillip Glass e um argumento bastante fluido de David Hare, temos um cocktail de emoções durante 2 horas que não os deixarão indiferentes.

O filme divide-se em três fluxos temporais, onde existe uma personagem principal: Mrs Dalloway e estas irão influênciar as personagens principais do filme. Em primeiro define a sua criadora, Virginia Wolf, a escritora que sofre de esquizofrenia e insurge-se contra o estilo de vida que a doença lhe impõe. Farta de isolamento ela é o retrato de um sofrimento e de uma frustação interno que leva a criar a obra literária que influenciará o destino das restantes personagens. Ela mesma é o resultado da criadora a ser influênciada pela sua criação. No final tanto Wolf como Richard tem o mesmo destino e se calhar esse detalhe não é tão gratuito assim. Vejam o filme e digam-me as semelhanças...

A personagem de Laura (Julliane Moore) é aquela que trará a maior surpresa durante o filme. Ao ler o livro escrito por Wolf, ela revê-se naquela personagem. Laura é a típica mulher dona de casa, dos anos 50. O pós guerra,trouxe-lhe um lar e um conforto que esta não esperava e de certa forma não deseja. Grávida com um filho e um marido, a felicidade é aparente e rapidamente percebe-se rapidamente porquê. Presa a uma vida que não deseja, as suas acções trarão sequelas para toda a sua família que serão reveladas no terceiro eixo temporal.


Por final temos a personagem de Clarissa (Meryl Streep), no presente. Ela é Mrs Dalloway, literalmente. Compra flores, organiza uma festa para o seu amigo Richard. Será a celebração de uma vida que já não deseja viver. Richard é um escritor, incompreendido, mas elogiado pela sua carreira, que vive assombrado pelas palavras de Virginia Wolf e a obra central do filme. A padecer de S.I.D.A, Richard padece do mesmo mal que Wolf: Revive as personagens em situações reais, e projecta as dolorosas vivências do seu passado, na prosa que escreve, ficando sempre escravo das memórias e das personagens que cria e lê.
~
O fatalismo do filme é mesmo esse. As personagens estão presas ao momento, mas não conseguem desligar o passado. Ele molda e condiciona o presente de todas as personagens. Se reparar, os unicos que morrem são escritores, porque tanto num caso como no outro, estes pensavam que com a sua morte, poderiam dar algum sentido de vida a todos aqueles que estariam a ser condicionados por eles. Isso não significa que exista uma resolução. O que o filme/livro promove é a excelência do momento, e nesse momento aproveitar a vida ao máximo, porque esse pico de felicidade poderá ser breve, sem a mesma intensidade e são esses momentos efémeros que definirão uma vida inteira.

O filme é demasiado complexo, há quem o veja como deprimente, ou o percepcione de forma distinta, como estou a tentar demonstrar, daí achar fascinante a forma como este foi concebido e construído. Mérito para Stephen Daldry e David Hare, que oferecem uma narrativa muito subliminar e subtil que tentam e conseguem dar uma dimensão literária. Todo o elenco é excelente, com portentosas actuações, cheio de significados subliminares que tanto satisfazem quem não leu o livro, como conseguem criar um elo de ligação para quem o leu. Em vez de o alienar, o livro surge como um complemento ao filme, sendo que considero este, um dos poucos exemplos em que o filme é uma obra superior ao livro. Um dos melhores filmes daquele ano, uma referência na minha vida!

domingo, 15 de setembro de 2013

Cosmopolis (2012)


de David Cronemberg
Robert Pattinson
Paul Giamatti
Kevin Durand
Juliette Binoche

Que dizer de Cosmopolis, um filme que foi considerado por muitos da imprensa portuguesa, como um dos melhores filmes deste ano? É dos filmes mais seilf-absorved que vi nos ultimos tempos. O filme tem como figura central Eric Parker, o cosmos de Cosmopolis, um bilionário de 28 anos que durante um dia enquanto faz a viagem ao barbeiro, encontra alguns dos seus assistentes, a sua amante, a sua mulher e ainda tem direito a uma consulta de urologia. Tudo isto embrulhado em diálogos numa análise filosófica sobre o capitalismo, a sua intangibilidade, e qual a real percepção do seu valor. É igualmente uma sátira à facilidade como a sociedade se molda a estes novos padrões de vida e a uma economia que se rege a base de rumores e previsões.

Tudo muito actual, mas que aqui acaba por ser um filme desequilibrado, com bastantes problemas de ritmo, um exercício intelectual sem qualquer empatia por quem está a ver o filme. Cosmos que David Cronemberg criou para si mesmo, um objecto fechado, onde tanto a personagem principal como os segundários que entram esporadicamente para dar o ar da sua graça, tem tanto carisma como uma folha de papel sem conteúdo. 

Talvez esse fosse o intuito do filme, aproveitar a alavanca promocional que Robert Pattinson daria ao filme, para dar algum buzz ao projecto, criar imensas expectativas e aproveitar o star power do actor como manobra de marketing para a adaptação do romance de Don delitto. Pode-se dizer que neste caso, a montanha pariu um rato... Quem vir o filme perceberá a analogia.





quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Django Unchained (2012)



de Quentin Tarantino
Jamie Foxx
Christoph Waltz
Leonardo Dicaprio
Kerry Washington
Samuel L.Jackson

Sinopse: Django é um escravo que é libertado por um bounty hunter, Dr. King Schultz para que o ajudasse a identificar 3 dos seus alvos. Ao ver o potencial em Django, Dr King Schultz propõe -lhe uma parceria, em contrapartida ele  ajudará a resgata e a localizar a mulher de Django, Broomhilda.

Começo por dizer que considero Django, um dos filmes menores de Tarantino. No entanto tomara a muitos que os exercícios menores na filmografia, fossem tão bons quanto este. Infelizmente em  Django, uma sensação de dejá vu e de previsibilidade que não permite ao filme ser a experiência que gostaria que fosse. 

O cinema de Tarantino foi sempre algo que conseguiu surpreender seja: 
  • na violência crua e o primeiro impacto às referencias pop do cinema de Tarantino em Reservoir Dogs.
  • na complexidade narrativa de Pulp Fiction e Jackie Brown.
  • Em Kill Bill : No volume 1 todo o excesso, também presente em Django, no volume 2 aquela calma inquietante e numa aparente mudante de registo, dando azo a um cineasta bem mais sensivel que poderiamos imaginar.
  • Em Inglorious Basterdz: A pequena reformulação histórica que define a experiência absolutamente deliciosa que o filme é. E claro introduz Cristoph Waltz ao mundo de Tarantino, que é algo que este filme também tem.
O que Django faz é reafirmar o quanto gostamos de Tarantino e do seu cinema: todos os key elements que o  compõem estão lá : grandes diálogos e personagens, as referências cinematográficas, a sátira e a violência e o humor, mas em Django a experiência acaba por ser menos equilibrada. Tanto Dicaprio como Waltz estão soberbos na composição das suas personagens, eles carregam o filme e a partir do momento em que saem de cena, o filme perde a intensidade que tinha tido até então e o dramatismo que atinge o pico nesse ponto do filme vai dando lugar a uma dimensão quase cartoonesca e incoerente.(vejam a fuga de Jamie Foxx).

Não se nega que Django tem alguns rasgos de genialidade, mas se analisarmos o filme como um todo e se o comparar-mos com outros filmes da filmografia do realizador, Django acaba por perder em comparação, o que é pena.

O melhor : Cristoph Waltz e Leonardo Dicaprio
O Pior : O momento em que estes saem de cena.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Amour(2012)


de Michael Haneke
Jean-Louis Trintignant
Emmanuelle Riva
Isabelle Huppert

O ultimo filme de Michael Haneke é das experiências cinematográficas mais angustiantes deste ano. Quando o filme terminou, o ar na sala era pesado, o ambiente era desconfortável que são dois adjectivos que podem assentar que nem uma luva ao cinema de Haneke.

“O Tempo Destroi tudo”


O melhor do filme é sem dúvida alguma Emanuelle Riva, que interpreta de forma assombrosa a degradação da sua personagem. No seu olhar conseguimos ver a lucidez e frustração  pelo seu corpo estar progressivamente a trai-la.  É interessante observar a forma como a progressiva debilitação da protagonista, potencia cada vez mais o isolamento do casal. De um espaço amplo, passamos para divisões fechadas, isoladas do mundo exterior e de todos, uma prisão para ambos.

Por mais virtudes que o cinema de Michael Haneke tenha , não deixa de ser frustrante o distanciamento entre o  olhar do cineasta e o seu publico. Amour, tal como os restantes filmes de Haneke é um filme frio,um olhar quase que cirúrgico à vida daquele casal. A doença destroi a rotina e isola-os naquele espaço, Haneke filma-o de forma impiedosa, realista, sem que haja qualquer hipótese de redenção para nós que saímos do cinema absolutamente dilacerados com o facto que eventualmente será aquele o nosso destino. É um filme dificil, um filme que gostaria ter gostado.




quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Silver Linings Playbook (2012)


de David O. Russel
Bradley Cooper
Jennifer Lawrence
Robert De Niro
Jacki Weaver
Chris Tucker

Sinopse : Pat Solatano (Bradley Cooper) regressa a casa dos pais (Robert De Niro e Jacki Weaver) depois ter estado numa instituição  por agressão violenta ao amante da mulher. Regressa convicto a reconquistar a mulher e a mudar toda a sua postura perante a vida. Quando conhece Tiffany (Jennifer Lawrence) esta oferece-se para o ajudar, se ele porventura também fizer algo por ela....

De vez em quando surge um filme que conquista por inteiro o publico e a atinge a aclamação crítica. O ultimo caso mais extravagante foi talvez O fabuloso Destino de Amélie Poulain, que em 2001 trouxe Audrey Tatou e Jean Pierre Jeunet nas bocas do mundo e fez as delicias de todos os cinéfilos e alguns corações de manteiga. Agora o próximo crowdpleaser minimamente equiparável é este Silver Linings Playbook de David O. Russel. O filme apesar de ter tido 3 uma estreia limitada, foi sempre conquistando publico e a prova é que 3 meses depois da sua estreia nos EUA ainda continua nos lugares cimeiros do box-office.

Entende-se o porquê : Apesar da formula ser convencional e a narrativa não ser original, estamos perante um projecto onde todos os ingredientes funcionam. Do argumento, aos actores, passando pela realização está tudo executado de forma eximia e raramente vemos uma comédia romântica tão eficaz. Bradley Cooper e Jennifer Lawrence tem aqui excelentes interpretações e uma química estrondosa entre os dois. Estão acompanhados por um elenco de secundários que também não desilude, aliás Robert De Niro volta aos papéis relevantes depois de uma travessia no deserto e é sempre bom ver o regresso Chris Tucker sem aquele overacting que infelizmente é a sua imagem de marca.

Todos encontram-se em consonância, porque o argumento tem alguma substância. Entre o protagonista bipolar dependente de medicamentos à viúva ninfomaníaca há uma relativização que permite ao comum dos mortais empatizar com aquelas personagens. As comédias românticas não precisam de ser perfeitas, as personagens não o são, as suas acções também não e é no assumir dessa imperfeição que o argumento é engenhoso e dá lugar a situações tanto comoventes como verdadeiramente dignas de uma screwball comedy.

Provavelmente será a melhor comédia romântica do ano e seguramente dos últimos anos. Preparem-se para sair do filme com um sorriso de orelha a orelha.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Martha Marcy May Marlene (2011)

de Sean Durkin
Elisabeth Olsen
John Hawkes
Sarah Paulson
Hugh Dancy


Vindo dos festivais de cinema com um hype bastante positivo como sendo um dos mais desconcertantes produtos cinematográficos deste ano, Martha Marcy May Marlene acaba por ver o seu reconhecimento injustamente ignorado nos Óscares e nos Globos de Ouro uma vez que se trata do que de melhor que vi em termos de produção indie nos E.U.A
O filme é um prodígio de edição onde  Zachary Stuart Pontier, torna as cadencias entre o culto e a vida familiar de Martha em algo hipnótico e sedutor como algo que estava entranhado bem na personalidade de Martha,  que juntando à fotografia de Jody Lee Lipes retira o melhor dos ambientes e da sensação de claustrofobismo em que a Martha vive.
Martha é uma jovem que foge de um culto, onde esteve ingressada durante dois anos. Contactando a irmã mais velha, ela regressa a casa. para uma aparente normalidade. A partir daí Martha vai sendo povoada por uma sensação de paranóia como se tivesse a ser perseguida pelo culto. É algo que ninguém entende e que a torna desajustada da sociedade normal.
Martha Marcy May Marlene é sobretudo um interessante exercicio sobre o domínio que este tipo de comunidades consegue ter sobre uma pessoa, moldar e seduzir aos poucos a sua personalidade. Muitos acharam o final abrupto, mas para mim conclui ambiguamente na perfeição o filme: Martha nunca viverá descansada, ela ficará sempre com aquela sensação de vigília constante, como se o culto viesse reclamá-la para si, poderá ser um exagero por parte de Martha ou os seus receios poderão ter fundamento.
Grandes actuações de Elisabeth Olsen e de John Hawkes, que oferece uma interpretação silenciosamente assustadora como Patrick, o líder do culto, um argumento que deixa a pensar e reflecte sobre uma realidade algo vincada nos EUA. Esse sentimento de isolamento que já tentaram adaptar para cinema, mas poucos fizeram-no tão eficazmente como Sean Durkin faz aqui em Martha Marcy May Marlene.


domingo, 1 de setembro de 2013

Thrist (2009)



de Chan Park Wook
Kang-ho Song
Ok-bin Kim
Hae-suk Kim


O que existe em Park Chan-wook que o torna tão especial? A meu ver é a sua atracção pelo burlescoaliado a a um erotismo romântico. Quem vir o filme percebe a razão destes adjectivos que porventura existiam também em Old Boy, se bem que de uma forma mais coesa que em Thrist.
Thrist é uma história de um padre que é transformado em vampiro depois de se ter submetido a uma experiência médica. Nessa experiência ele morre humano e renasce vampiro. A sua personagem é uma personagem bondosa que é obrigado a ceder aos seus impulsos carnais. Essa cedencia surge com a introdução de uma família que fazia parte da sua infância. Nela Tae-ju a sua paixão de infância está casada com o seu amigo e é submetida a humilhações pela sua sogra e mãe adoptiva.
Estas relações disfuncionais e excentricas são um terreno comum no mundo do cineasta. Nota-se o seu fascinio por estas relações disfuncionais que evoluem primeiramente de uma forma subtil para depois ser exagerado e desiquilibrado.


A partir do momento em que a relação do padre e Tae-ju começa a evoluir ele começa a renunciar à sua condição de padre e a abraçar a sua nova condição, sempre com o receio de se revelar. Até ao momento da revelação, parece que estamos presente um filme de Wong Kar Wai de vampiros. Tentando não revelar nenhum detalhe, o realizador tenta abordar o vampirismo como estudo e extensão da própria condição humana.
Chan Park-Wook filma isso de forma eficaz até a primeira metade do filme, porém perde as estribeiras na segunda metade dando lugar a um filme que vai perdendo o seu fio narrativo, a sua coerência talvez devido a uma personagem desiquilibrada. Se calhar era o efeito pretendido pelo realizador, porém a elegância da descoberta vai dando lugar ao grotesco e ao excesso. Mas no meio de toda esta experiência de extremos não podemos deixar de ficar indiferentes e seduzidos pela forma como Chan Park-Wook conduz este épico vampírico. Da sedução, surge o amor, do amor surge a obsessão, depois o confronto e quando o julgavamos perdido, o amor ressurge novamente. E nesse momento em que o filme renasce das cinzas vemos que apesar de todos desequilíbrios foi uma experiência estranhamente atraente e quando menos se espera perdoamos todos os desvaneios que as personagens poderão ter tido, para poderem ter a sua redenção.