domingo, 25 de agosto de 2013

Copie Conforme (2010)

de Abbas Kiarostami 
Julliette Binoche
William Schimmel
  
Sinopse : Uma mulher assiste a uma conferência de um historiador, James Miller, sobre o valor intrínseco de uma cópia.  Deixando-lhe a sua morada, eles encontram-se e no decurso do dia , sob as paisagens da Toscânia , a cópia certificada das suas vidas assumirá o original, ou será o contrário?

Abbas Kiarostami assina aqui um filme absolutamente fascinante sobre o valor intrínseco que o original tem sobre uma cópia? Essa cópia será inferior? Poderá superar o original? O realizador assume que o valor de algo está indissociavelmente ligado à ligação com o objecto que estabelece com a pessoa e ele é extremamente hábil em colocar esse ponto de reflexão, primeiro nos protagonistas, onde  na primeira parte do filme vemos as posições antagónicas dos protagonistas, onde o historiador James Miller vê a perfeição na cópia que a Natureza constantemente replica, enquanto que "ela" vê a perfeição na  quase impossibilidade de réplica na arte, que por sua vez para ele é a cópia da nossa realidade.

Segundo, na cena em que os protagonistas tomam um café, num diálogo com a dona do café em que ela  assume que eles estão casados, eles começam a assumir o papel de marido e mulher, casados há 15 anos, com um filho em comum. Qual é a história e realidade? A Cópia ou o Original? Dois estranhos que  fingem ser casados? Ou um casal que "fingem" ser estranhos um ao outro? A partir desse momento estamos a  observar uma versão moderna de "Viagem a Itália" de Roberto Rosselinni, com actualizado com influências do cinema de Richard Linklater que o realizador adapta e traduz à sua linguagem e cinema.

Abbas Kiarostami começa a fazer da narrativa, um puzzle continuo, onde o original e a cópia são relativos e cada um interpreta como deseja. Sobretudo, sendo ilusão ou realidade, Copie Conforme é uma reflexão sobre as relações e a forma como estas definem e transformam. Nós somos um objecto original, em constante mutação e como tal somos a nossa verdadeira cópia, até ao momento em que somos estranhos ao outro. Por todas as ideias que assume Copie Conforme está longe de ser uma cópia, é original, a réplica fazemos na nossa própria mente, um pouco como Antonionni, Kiarostami deixa o espectador fazer o filme tal como deseja.

Isso é terrivelmente delicioso. E diga-se extremamente raro nos dias que correm.

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