quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Julieta (2016)




Julieta 
de Pedro Almodovar 
com Adriana Ugarte, Emma Suarez, Rossy de Palma


Depois de Amantes Passageiros, uma tentativa algo frustrada de revisitar o humor e irreverência dos inicios da sua carreira, Pedro Almodovar regressa ao melodrama no feminino, o mesmo cinema que o consagrou 20 anos antes e que atingiu o seu ponto de maturação com Hable con ella. Porém, desde então, embora nunca fazendo um mau filme, torna-se evidente que Pedro Almodovar continua em fase de auto-citação, .

Adaptando, 3 mini-estórias de Alice Munro, Runaway: Chance, Soon and Silence, Julieta é uma mulher de meia-idade aparentemente feliz, com a perspectiva de se mudar para Portugal com o seu namorado, Lorenzo ( Dario Grandinetti de Habla con Ella) quando subitamente um encontro com Bea, faz reacender a ausência da sua filha, resolvendo manter-se então em Madrid, mudando-se para o antigo apartamento e a partir desse momento, começa uma retrospectiva da vida de Julieta,





Almodóvar opta por fugir a momentos mais dramáticos e por filmar as memórias como um fatalismo policial (referencia directa a highsmith e hitchcock) que não deveria de existir. Almodóvar evita excessos melodramáticos e todos os pontos chave na vida de Julieta, ocorrem off-screen. O impacto existe mas é invisivel. Sendo o filme  o ponto de vista de Julieta, deixa muito pouco espaço para as personagens secundárias  ( Rossy de Palma muito pouco utilizada rouba as cenas em que entra) , o filme ganharia  utilizando o dinamismo entre essas personagens e os seus diálogos mas aqui esse dinamismo não existe, perdendo fôlego na segunda metade do filme, quando o enredo e as motivações são reveladas, veja-se a personagem de Antia cujas  potencialidades dramáticas foram sobejamente ignoradas e a sua conclusão surge como sendo indiferente e algo inacabada.


Obviamente isto é a epopeia de Julieta, interlocutando, presente e passado rumo ao futuro, mas mesmo com alguns bons momentos, Julieta é um exercício narrativo algo desinspirado do realizador que parece acomodado no seu cinema, citando-o. No entanto se o argumento e as suas personagens se sentem pouco desenvolvidas, o inverso se pode dizer da estética, aqui Almodovar encontra em Jean Claude Larrieu o parceiro perfeito para dinamizar a pelicula com cores vivas e a mise en scene numa geometria perfeita que preenche o vazio narrativo de Julieta.

Esta abordagem mais fria, calculista de filmar e editar pode levar a resultados mais  interessantes no futuro conceptuais ou abstractos. Julieta  merecia um tratamento mais clássico e personagens mais fortes. Apesar de belissimo em momentos, não deixa de ser infelizmente um filme menor de Almodovar que não defraudará os seus fieis seguidores. Sendo que aqui o 702E continua a aguardar a próxima obra prima do realizador.







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