segunda-feira, 26 de setembro de 2016

The Young Lions (1958)

de Edward Dmytryk
com Marlon Brando, Montgomery Clift e Dean Martin



Taxi Driver é o ultimo classico a ter direito a restauração e distribuição nas salas de cinema portuguesas, um fenómeno bem vindo a todos amantes de cinema. Os seus 40 anos acrescentaram ainda mais valor à obra de Scorcese, podemos também o mesmo de grande parte das obras de Kubrick, Antonioni, Hitchcock ou se quisermos colocar na mesma liga de Dmytryk, Joseph Losey, cujo visionamento actual das suas obras continuam a fascinar pela sua actualidade e pela observação (ainda) extremamente acutilante das relações humanas. Outras obras no entanto, são produtos do seu tempo, adoptam a imagem, linguagem, estética e estereótipos da época sem conseguir transcender para além disso. Por isso a pergunta que coloco será Young Lions um clássico?

Para isso temos que definir o que é um clássico, e apesar de não possuir nenhum conhecimento técnico, irei tentar expor a minha definição de clássico. Vejamos, Blade Runner, um projecto que depois de Alien, não conseguiu capitalizar Ridley Scott, falhando no box-office e com uma recepção na altura algo fría ao filme. Os anos passaram, negam que o filme seja um clássico? As questões que coloca são intemporais, a sua linguagem e visão continuam tão contemporâneas quanto antes e a sua reapreciação não tardou e agora todos o vêm como um clássico da Ficção Científica e um dos melhores filmes de sempre. No entanto, a estatura de clássico é mais ampla que isso: Aurora e Nosferatu de Murnau são um clássico? Sim são. Continuam actuais? Provavelmente não, mas são marcos do cinema que definiram uma era e a seu direito transcenderam a barreira do tempo. 

Portanto o denominador comum é o tempo e a capacidade de um filme não cair no esquecimento do publico em geral. Posto isto não é necessário ser uma obra-prima, mas o valor de um clássico está na capacidade de transcender o tempo e ser referência a várias gerações dentro do género. Exemplo : Home Alone ou Pretty Woman.

Por esses motivos posso dizer e iniciar a crítica a The Young Lions dizendo que não considero o filme de Edward Dmytryk um clássico.  Tendo por base a história de 3 soldados, Christian Diestl ( Marlon Brando), Noah Ackerman (Clift Montgomery) e Michael Whiteacre (Dean Martin), the Young Lions adapta o livro de Irwin Shaw de 1948 com alguns desvios narrativos e explora os conceitos de ideologia, racismo, patriotismo em três histórias distintas sem as explorar demasiado a fundo. O melhor é falar das personagens em separado para terem uma ideia dos 167 minutos de filme. 




Christian Diestl : Entre o Orgulho e a Ingenuidade

Marlon Brando pinta o cabelo de loiro platinado para interpretar Christian Diestl, com uma ingenuidade puéril. Ele genuinamente acredita que o Nazismo poderá ser a próxima ordem mundial a trazer uma Europa Unificada. A sua personagem acaba por ser a mais complexa, na dualidade entre nacionalismo e a sua humanidade. Esta interpretação mais humana da personagem acaba por ser elevar pois além de não matar de forma gratuita está em conflito com as estratégias usadas pelo seu superior (Maxmillian Schell num caso particular de overacting), além de que  a personagem encontra-se quase sempre deslocada das frentes de Guerra na Europa. Ao actor cabem os diálogos mais interessantes e a maior interação com as personagens femininas, no entanto as falas são dadas com os maneirismos e a entoação "normal" de Brando, como um Vito Corleone com um Inglês camuflado com uma má dicção Alemã. 

Maneirismos e críticas aparte, Marlon Brando cumpre o seu papel e talvez por sua influência e "star power" a personagem de Diestl acaba por ter um desenvolvimento diferente do livro em prol de uma visão mais simpática que potencialmente deveria de ser, pois segundo o livro era alguém que é seduzida e corrompida pela ideologia, sendo que no filme acaba por ser um "simpático" general que se vê derrotado no final, quando lhe é revelado a existência dos campos de concentração e as práticas lá existentes, com um desfecho  completamente diferente no conflito final, quando as três personagens se intersectam,


Noah Ackerman : Hays Code vs Anti-Semitismo

The Young Lions, acaba por ser mais interessante na linguagem subliminar e nos contextos não assumidos na narrativa que propriamente nos temas que explora directamente. Noah Ackerman é um Judeu Norte-Americano, sem Familia que não consegue fugir à Recruta do Exercito Norte-Americano. Há uma cena no ínicio do filme, onde as personagens de Dean Martin e Montgomery Clift conhecem-se e enquanto Dean Martin exarceba a sua masculinidade ao reparar directamente nas mulheres que passam por eles a Montgomery Clift não se apercebe. É um sinal da sua "sensibilidade", ou digamos da sua homossexualidade. Interessante porque anos antes, o realizador na rodagem de Crossfire, ao abrigo do Código Hays foi obrigado a retirar o contexto da homofobia da narrativa e substituir por questões racistas e anti-semiticas. Agora em the Young Lions faz o oposto e  numa narrativa que aborda o anti-semitismo, coloca elementos que correlacionam e caracterizam  a personagem subliminarmente como homossexual, usando arquétipos da época. ( uma personagem insegura, virginal que gosta de ler James Joyce)

De resto la raison de etre da sua personagem aparenta ser um mero maniqueismo pela sua identidade judaica, um elemento que no final lhe vai conceder alguns segundos dramáticos e um pathos patriótico como sendo aquele que liberta os Judeus do Campo de concentração. O realizador opta por dar ao underdog o desfecho completamente diferente do livro, sendo aquele que finaliza o filme returnando feliz da Guerra para os braços da sua familia. 

Michael Whiteacre : Jerry Lewis já não mora aqui
Dean Martin, numa tentativa de quebrar com o seu passado mais cómico e no primeiro filme depois de sair da parceria com Jerry Lewis aceita fazer o papel de Michael Whiteacre, um mulherengo, norte-americano, não patriótico, num papel por vezes sarcástico, que tenta evadir da vida militar sem sucesso. A sua narrativa acaba por ser secundária, um ponto de ligação entre Barbara Rush e Montgomery Clift brilharem nos seus momentos dramáticos, tanto que a sua personagem nem tem direito a um final ( provavelmente por questões de duração do filme)



As mulheres acabam por ser a injecção de vitalidade de The Young Lions : Dora Doll, Barbara Rush e Lilliane Montevechi, roubam as cenas quando entram. Pena que o argumento as limite aos estereótipos da época de presas fáceis ao poder masculino, arquétipos gerais daquela época e acabam por não ter muito que fazer e ser o apoio dos protagonistas, Hope Lange faz par romântico com com Montgomery Clift  num papel com pouco relevo.

O grande problema com The Young Lions começa no argumento que é desconexo parecendo que estamos perante dois filmes distintos, sem que ambos sejam particularmente memoráveis. Por cada diálogo que seja bom, existe outro que é risível e com direito a um overacting dispensável.  Um esquematismo de argumento que acaba por quebrar quaisquer potencialidades ou complexidades narrativas. No entanto, o filme suscita-me a curiosidade para o livro que lhe deu origem. Um facto redentor para um filme que apesar de algum momentos interessantes acaba por acusar o peso do tempo sendo assim um filme menor dentro género.



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